quarta-feira, fevereiro 24, 2010

Em conversa: Pantha du Prince (2/3)

Continuamos a publicação de uma entrevista com Hendrik Weber (ou seja, Pantha du Prince), que serviu de base ao texto ‘Memória de uma derrocada nos Alpes inspira disco’, publicado no DN a 8 de Fevereiro.

Conta com uma colaboração especial num dos tema de Black Noise. Trata-se de Panda Bear (dos Animal Collective). É um admirador do seu trabalho?
Já conheço o Noah [Lennox, ou seja, Panda Bear] e, na verdade, os Animal Collective há já algum tempo. Um dos seus melhores amigos convidou-me para tocar em Nova Iorque, talvez em 2004, não me lembro bem...

Acabou até por remisturar Peacebone, dos Animal Collective, para um dez polegadas...
Os outros elementos do grupo já me conheciam antes. O Noah contactou-me mais tarde e foi através desses contactos ao longo dos anos que a Domino me contactou para fazer a remistura.

Mas agora levou o próprio Noah Lennox a colaborar no seu disco. A sua música é essencialmente instrumental, mas aqui surge uma voz…
Foi na verdade um pouco difícil para mim. Porque tive de lhe dar, para começar, um esboço... Dei-lhe uma faixa, na qual estava pensar que seria bom ele cantar. Mas acabei a fazer uma faixa nova com a sua voz... Na verdade, tive e voz e acabei por fazer a música para a voz.

Gostou da experiência?
Sim, foi muito agradável. E no futuro vou trabalhar mais com vozes. Foi algo que trouxe um novo nível. E deu-me a impressão de ser a coisa certa a fazer. E a composição foi até mais fácil. Mais natural até, musicalmente falando. Por vezes é difícil trabalhar com vozes porque exigem espaço, por isso não podemos trabalhar tanto o som. Para mim é sempre importante manter o equilíbrio entre o que é o som de Pantha du Prince. Daí que era preciso ter, por um lado o som, por outro a voz.

A música não perde, de facto, essa personalidade. Evolui devagar, como uma reflexão que às tantas se transforma numa canção.
Sim, é verdade. Gosto de combinar uma ideia de viagem sónica com a estrutura de canção por baixo. E é algo sublime conseguir combinar estes dois elementos. A viagem no som, nas harmonias, nas estruturas da canção.

Esta colaboração foi para si um desafio? Ou mais uma oportunidade?
Nem uma coisa nem outra. Acho que foi mesmo algo que estava a acontecer.

Nas suas actuações ao vivo este ano vamos vê-lo mais como DJ ou no registo ‘live’?
Já fazia as duas coisas. Mas no próximo meio ano vou fazer um re-edit das minhas músicas. Fazer sampling ao vivo, remisturas ao vivo das minhas produções. E também tocar novas músicas, faixas que não estão no disco. E tocar jams pelo meio onde possa improvisar. E recuar também a temas do Diamond Daze. Será um pot pourri de produtos Pantha du Prince. Mas no futuro acho que vou inserir mais produções. Normalmente trabalho apenas com excertos das faixas, daí se usar mais temas posso juntar elementos de canções que queira reconstruir, em vez de simplesmente tocar um disco. Tocar discos não é mais o que me interessa. Assim foi nos anos 90 e até no início dos anos zero. Mas estas ideias de misturar e colar e de fazer samples tem de se desenvolver para outro nível... Temos de reconstruir esta história de outra maneira. Falo do formato clássico do DJ, que existe desde os anos 70 com a DJ culture. E penso que está na altura de levar esta ideia a outro nível. O vinil é interessante. Ainda compro vinil... Mas para apresentar música é preciso seguir em frente, usar novas tecnologias. Também gostaria de explorar ainda mais as situações de concerto. Ter o desafio de fazer concertos. Quando se faz um set de DJing, durante umas horas, há tempo para contar várias coisas. Quando se toca ao vivo, como vou fazer nesta nova digressão, estarei mais perto dessa situação de concerto. As coisas podem correr mais, há mais feedback, há uma feel mais analógico...
(continua)