O novo álbum, Black Noise, conta-nos uma história. Ou pelo menos leva-nos a um lugar. A imagem na capa é uma primeira pista?
A capa é uma pintura clássica de uma paisagem do século XIX. É o negativo do que acontece no interior do booklet, nas fotografias. As fotos foram feitas numa montanha. A montanha onde gravámos o disco. É na Suíça. Em tempos houve um desabamento de terrenos que destruíram uma pequena aldeia. A capa é uma imagem na Alemanha... Mas é um pouco a antítese do que acontece quando surge o “black noise” que destrói algo de idílico. Como a capa... Queria algo mosterioso. Algo que não indicasse exactamente onde estamos. A pessoa olha para imagem e quer saber onde fica, o que se passa ali... Ao mesmo tempo há uma ironia, porque é uma imagem muito suíça e alemã, na capa de um álbum que sai numa editora inglesa. Há ali uma ironia da minha parte.
A sua música reflecte mais o tom idílico da pintura na capa ou a assombração das fotos no interior do booklet?
Acho que os dois elementos acontecem. Mas na verdade sinto uma maior ligação com o elemento black noise... Com a destruição e com aquilo que surge e cresce depois da destruição. Hoje, mais de 100 anos depois do desabamento a montanha é linda. Nem dá para imaginar... A natureza reconquista sempre. É um pouco assim que a música deve funcionar... Cresce por si, tem uma face orgânica que desenvolve em nós algo novo, abre novas perspectivas. Não quero que a música seja demasiado simples. Gosto que tenha contradições. Entre o idílico, com momentos de beleza poética... Mas também a capacidade de devastar. A capa reflecte esses dois aspectos da música.
A sua música evolui em volta de um conjunto de ideias. Como chegou a este som? Fala por vezes em referências a uns Ride ou Slowdive. Mas também a Arvo Pärt ou Susumo Yolota... A sua música reflecte o percurso que de descobertas que teve como melómano?
É basicamente uma viagem para mim. À maneira que descobria a música que fazia ia também ouvindo música. A música que ouvia acabava assim por influenciar a minha perspectiva sobre o som e sobre como contar histórias com sons. Todas estas influências são pequenos átomos do processo da formação de Pantha du Prince. Pantha du Prince sempre foi também para mim algo que tem a ver com a música de dança. E ao mesmo tempo sobre uma viagem sónica em que podemos embarcar ao mesmo tempo que dançamos. E pessoas como La Monte Young, que têm uma abordagem conceptual à música, foram importantes para mim. Gosto de partir de conceitos que sirvam de base e sobre os quais posso construir coisas. Podemos assim voltar sempre a ideias de raiz... Há sempre um conceito por trás de tudo. E aí La Monte Young foi marcante para mim.
A sua música usa motivos repetitivos, mas no seu MySpace cita os minimalistas europeus, nomeadamente Arvo Pärt e Wim Mertens e não os mais habituais (americanos) Philip Glass e Steve Reich... Além de La Monte Young, claro...
Isso talvez seja uma identificação cultural, não sei... Eu não me sinto parte da história do minimalismo. É claro que um Wim Metrens o é. Até escreveu um livro sobre a música minimal. Mas levou-a mais adiante, rumo às harmonias. E tem toda aquela relação com a editora Les Disques du Crepuscule... Foi interessante para mim conhecer o que aconteceu ali na Bélgica, nos anos 80. Steve Reich e Philip Glass são compositores que ligo mais à alta cultura. Posso ouvir a sua música, mas quando encaro a “família” Les Disques du Crepuscule, a forma como trabalhavam e a forma como a editora se relacionava com a cena belga nos anos 80, é para mim muito interessante.
Uma realidade mais multicultural?
É mais a minha maneira de ser, tem mais a ver com a minha história.
Consegue identificar um momento, um disco, um artista, que o tenha feito encontrar a ideia para quem é Pantha du Prince?
Não sei... Não o consigo dizer. Nem sei ainda o que é Pantha du Prince... É uma pesquisa constante. É uma pesquisa social e sonora. Sempre que me surge uma ideia, procuro segui-la.
(continua amanhã)