Concluímos hoje a publicação integral de uma entrevista com Charlotte Gainsbourg que serviu de base ao texto publicado dia 6 no DN Gente com o título ‘Uma Voz entre a música e o cinema’
O filme Anticristo, de Lars von Trier está a gerar opiniões radicalmente diferentes e mesmo extremadas. Surpreende-a este tipo de reacções?
Entendo. O que vivemos frente à câmara foi tão extremo, que não vejo porque não aconteça o mesmo nas opiniões sobre o filme. O que me metia medo em relação a ir a Cannes foi quando me disseram para estar preparada para algo escandaloso e violento... Estava preparada para isso. O que seria horrível era se as pessoas tivessem, uma reacção tépida em relação ao filme. E nem fossem pró ou contra. Gosto da ideia das pessoas terem uma reacção forte ao filme.
Ficou surpreendida com a vitória em Cannes como Melhor Actriz?
Sim, muito... Porque hoje, com a Internet, vamos sabemos o que de diz, as previsões. E não via o meu nome em nenhuma... pelo que pensei que seria outra actriz a ganhar.
Foi um papel difícil?
Foi. Mas adorei a experiência. Foi maravilhosa. É um papel fortíssimo, extremo.
E foi difícil, depois, sair do filme? E caminhar para o seguinte?
Foi logo a seguir... E antes mesmo de Cannes… Sair deste filme para outro foi difícil. Porque fiquei habituada ao lars e á sua maneira de filmar. Foi tudo tão extremo na minha mente e foi difícil de esquecer. E tinha de esquecer para poder seguir em frente e viver outras experiências. Agora está tudo bem, já fiz outros filmes. Fiz o [Patrice] Chéreau e outro filme francês na Austrália... Gosto que me aconteçam coisas diferentes...
Gosta de ser surpreendida?
Sim, acho que é por isso que faço estas coisas. Não acho que isto seja uma atitude egoísta, mas sempre que falo em públicos, quando penso em quem escuta um disco ou vai ver um filme penso em mim...
Como é, para si, sair do plateau ao fim de um dia de rodagem e reentrar na vida normal. E depois ter de retomar o papel no dia seguinte?
Depende do filme... Há sempre um momento em que nos sentimos em baixo depois filme. Mas não transportamos a personagem durante toda a rodagem. Em Anticristo levei algum tempo a esquecer as cenas. A esquecer a personagem e focar-me no futuro... Há uma tendência para repelir... E podemos ficar ali presos
Faria um filme onde pudesse cantar?
Sim, adoraria, mas não pensei nunca nisso. Mas hoje é difícil que um filme musical tenha impacto em França. Isso nunca acontece... Não é parte da nossa cultura. Mas nunca pensei nisso...Gosto de musicais. Cresci a ver musicais como o Oliver, o My Fair Lady, o West Side Story...
Tem um filme preferido?
Gosto do Some Like It Hot. Sempre adorei esse filme e não consigo sair dele para um outro...
Quando o viu pela primeira vez?
O meu pai tinha um grande sistema em casa... Era o começo do vídeo e tínhamos um grande ecrã. E vi o filme nesse grande ecrã. Hoje gosto de ver de tudo. Não tenha um estilo específico de que goste mais... Recentemente vi o Laço Branco de que gostei muito.