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(C. Isherwood)
É precisamente com a frase que abre A Single Man que Tom Ford nos convida para a sua leitura de um dos mais incríveis romances de Christopher Isherwood. Originalmente publicada em 1964, a narrativa de Isherwood conhece aqui um dos mais incríveis exemplos de adaptação de um texto a cinema, grande parte do mérito devendo-se à incrível visão de Tom Ford que não apenas mergulhou na pungente carga emotiva da história que tinha em mãos, como a soube projectar num universo visual que lhe dá corpo (isto sem não esquecer o igualmente soberbo trabalho dos actores, sobretudo Colin Firth e uma sempre magnífica Julianne Moore).
A acção projecta-se na América de inícios de 60, indícios de localização do tempo passando em fundo na forma de referências à crise dos mísseis em Cuba. No centro do pequeno universo que Isherwood criou encontra-se um professor universitário (interpretado por um espantoso Colin Firth) que, após 16 anos de vida comum com um arquitecto se vê mergulhado na solidão após a morte deste último num acidente de viação. O silêncio de uma casa onde antes habitava a música que escutavam ou a placidez de serões vividos de livros entre as mãos tornou-se insuportável. E o sentido de tudo dissipou-se, planeando George Falconer (assim se chama) uma despedida. Um adeus encenado ao pormenor, os mais pequenos detalhes alvo de atenção ao longo de um último dia, aquele que o filme nos desvenda aos poucos.
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O último dia de George conta, contudo, com uma interferência inesperada. Uma presença que escapara ao seu meticuloso plano de adeus, desenhado com a elegância de um esteta. O elemento imprevisto chega na forma de Kenny (Nicholas Hoult), um dos seus alunos. Um rapaz atento, sensível, que em George detecta uma inquietude e que decide conversar com o professor.
Imagens do trailer de A Single Man.
PS. O filme está nas salas portuguesas com o título (de tradução nada feliz) Um Homem Singular.