N.G.: Foi como uma viagem no tempo, cada obra servindo de veículo a uma passagem á época seguinte. Aconteceu há dias em actuação da Orquestra Gulbenkian, dirigida pelo maestro titular Lawrence Foster, com as presenças de Zandra McMaster (meio-soprano) e Christopherr Malfman (barítono).
Começámos em 1999, com as três espantosas Whitman Songs de Michael Tilson Thomas, em cuja medula circulam ecos de uma evidente admiração por Leonard Bernstein. Deste segundo compositor, um dos mais interessantes autores da música americana do século XX, seguiu-se a Sinfonia Nº 1 - Jeremiah, de 1942. Uma obra intensa que, se por um lado traduzia uma atenção do músico ao contexto de tempo, lugar e vivência cultural que o envolvia (captando na tradição do teatro musical uma marca de identidade da mesma forma como Gerswhin havia assimilado o jazz alguns anos antes), por outro vincava a assombração de alguém que, de ascendência judaica, não deixava de reflectir sobre um tempo de perseguição e morte que se vivia, então já em plena II Guerra Mundial. A segunda parte do concerto foi toda ela preenchida pelo ciclo Des Knaben Wunderhorn, de Mahler, figura marcante na formação e obra (como compositor e também como maestro) de Bernstein. Se na sinfonia de Bernstein, brilhantemente executada, tinha ficado evidente a “mão” segura de Foster sobre uma orquestra que revela profunda relação com o maestro, no Mahler compreendeu-se a verve sinfonista de uma escrita que com as vozes partilha o protagonismo. E, precisamente, foi com Mahler que ambos os cantores tiveram os seus melhores momentos de todo o concerto.