sexta-feira, janeiro 01, 2010

Uma odisseia em 2010

Desde os anos 80, em concreto desde 1984, o ano em que agora entramos tem uma história a si associada. Não é a única narrativa de ficção projectada no novo ano. Mas 2010 deu-lhe nome. Primeiro num livro, pouco depois no cinema, apresentando a sequela de 2001: Odisseia no Espaço, que Arthur C. Clarke originalmente havia desenvolvido para o histórico filme de Stanley Kubrick.

Estamos em 2010… Passaram nove anos sobre a missão que levara a nave Discovery e uma pequena tripulação até Júpiter… O final da missão acabara envolto em mistério. Mas não em silêncio. Sinais captados dão a entender que algo se passa naquela zona do sistema solar… E, necessitando o apoio dos americanos (que tinham lançado a nave Discovery), os russos contactam especialistas ligados ao projecto original, levando-os a bordo da Leonov até ao planeta gigante onde, inerte desde 2001, a nave Discovery se havia transformado em mais um dos satélites do planeta…
A narrativa evolui, juntando dois ingredientes fundamentais. Escrito em 1982, em clima de tensão nuclear entre os dois grandes blocos (EUA e URSS), o livro 2010: The Second Odissey transporta um clima de ameaça iminente para o espaço, chegando mesmo a separar russsos e americanos nas respectivas naves (uma delas a então recuperada Discovery). Só uma necessidade comum os juntará, um gigantesco evento cósmico (anunciado pela mesma entidade que havia deixado os enigmáticos monólitos na Terra e Lua) acabando por representar o motivo pelo qual a contenda terrestre acaba por ser ultrapassar.

Ao contrário de 2001: Odisseia no Espaço (em cima a capa da banda sonora original), 2010: A Segunda Odisseia (assim foi traduzido o livro para Portugal) foi originalmente um livro, só dois anos depois, em 1984, chegando ao cinema pela mão de Peter Hyams como 2010: O Ano do Contacto.
O filme herda naturalmente a narrativa explorada por Kubrick, assim como os espaços físicos da nave Discovery, que em parte voltam a ser usados (não regressando contudo a grande sala circular que havia gerado uma das mais surpreendentes sequências do filme de 1968. Do filme original 2010 recupera ainda o actor Keir Dullea, que volta a vestir a pele do astronauta Dave Bowman, misteriosamente desaparecido em 2001 e que agora surge como emissário da força cósmica que alerta a humanidade para “algo maravilhoso” que vai acontecer.
2010: O Ano do Contacto está contudo a milhas do feito de Kubrick, representando uma sequela de dieta a um dos mais importantes filmes de toda a história do cinema de ficção-científica.

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Arthur C. Clarke não terminou contudo esta história em 2010. Em 1987 o livro 2061: Odissey Three retoma a narrativa, projectando a acção 51 anos mais tarde. Júpiter transformou-se numa pequena estrela e o gelo em Europa derreteu, mostrando agora o planeta uma atmosfera. A história evolui em torno de uma estrutura que é detectada na superfície de Europa e que se descobre ser um gigantesco diamante, projectado por Júpiter aquando do evento de 2010 que o transformara em estrela. A tetralogia terminaria em 1997 com a publicação de 3001: The Final Odissey, que não apenas revela o que são os monólitos e a civilização alienígena que os criou, como recupera a figura do astronauta que é lançado para o espaço em 2001 e que vagueando inerte, congelado, durante mil anos, é encontrado na Cintura de Kuiper e depois reanimado. O terceiro e quarto volumes da série chegaram a chamar algumas atenções em Hollywood, mas uma adaptação de qualquer um deles nunca sequer entrou em pré-produção.