Desde os anos 80, em concreto desde 1984, o ano em que agora entramos tem uma história a si associada. Não é a única narrativa de ficção projectada no novo ano. Mas 2010 deu-lhe nome. Primeiro num livro, pouco depois no cinema, apresentando a sequela de 2001: Odisseia no Espaço, que Arthur C. Clarke originalmente havia desenvolvido para o histórico filme de Stanley Kubrick.
Estamos em 2010… Passaram nove anos sobre a missão que levara a nave Discovery e uma pequena tripulação até Júpiter… O final da missão acabara envolto em mistério. Mas não em silêncio. Sinais captados dão a entender que algo se passa naquela zona do sistema solar… E, necessitando o apoio dos americanos (que tinham lançado a nave Discovery), os russos contactam especialistas ligados ao projecto original, levando-os a bordo da Leonov até ao planeta gigante onde, inerte desde 2001, a nave Discovery se havia transformado em mais um dos satélites do planeta…A narrativa evolui, juntando dois ingredientes fundamentais. Escrito em 1982, em clima de tensão nuclear entre os dois grandes blocos (EUA e URSS), o livro 2010: The Second Odissey transporta um clima de ameaça iminente para o espaço, chegando mesmo a separar russsos e americanos nas respectivas naves (uma delas a então recuperada Discovery). Só uma necessidade comum os juntará, um gigantesco evento cósmico (anunciado pela mesma entidade que havia deixado os enigmáticos monólitos na Terra e Lua) acabando por representar o motivo pelo qual a contenda terrestre acaba por ser ultrapassar.
Ao contrário de 2001: Odisseia no Espaço (em cima a capa da banda sonora original), 2010: A Segunda Odisseia (assim foi traduzido o livro para Portugal) foi originalmente um livro, só dois anos depois, em 1984, chegando ao cinema pela mão de Peter Hyams como 2010: O Ano do Contacto.O filme herda naturalmente a narrativa explorada por Kubrick, assim como os espaços físicos da nave Discovery, que em parte voltam a ser usados (não regressando contudo a grande sala circular que havia gerado uma das mais surpreendentes sequências do filme de 1968. Do filme original 2010 recupera ainda o actor Keir Dullea, que volta a vestir a pele do astronauta Dave Bowman, misteriosamente desaparecido em 2001 e que agora surge como emissário da força cósmica que alerta a humanidade para “algo maravilhoso” que vai acontecer.
2010: O Ano do Contacto está contudo a milhas do feito de Kubrick, representando uma sequela de dieta a um dos mais importantes filmes de toda a história do cinema de ficção-científica.



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Arthur C. Clarke não terminou contudo esta história em 2010. Em 1987 o livro 2061: Odissey Three retoma a narrativa, projectando a acção 51 anos mais tarde. Júpiter transformou-se numa pequena estrela e o gelo em Europa derreteu, mostrando agora o planeta uma atmosfera. A história evolui em torno de uma estrutura que é detectada na superfície de Europa e que se descobre ser um gigantesco diamante, projectado por Júpiter aquando do evento de 2010 que o transformara em estrela. A tetralogia terminaria em 1997 com a publicação de 3001: The Final Odissey, que não apenas revela o que são os monólitos e a civilização alienígena que os criou, como recupera a figura do astronauta que é lançado para o espaço em 2001 e que vagueando inerte, congelado, durante mil anos, é encontrado na Cintura de Kuiper e depois reanimado. O terceiro e quarto volumes da série chegaram a chamar algumas atenções em Hollywood, mas uma adaptação de qualquer um deles nunca sequer entrou em pré-produção.