A primeira grande estreia nos ecrãs de 2010 chama a atenção para o poder visual (e depois, naturalmente também narrativo) que a fantasia pode alcançar quando opta pelas representações de “carne e osso” em detrimento do poderio esmagador e “espectacular” do digital. E é mesmo da quase verosimilhança dos monstros depressivos, que partilham com o pequeno Max o protagonismo de O Sítio das Coisas Selvagens, que vive a força desta adaptação, por Spike Jonze, de um conto homónimo de Maurice Sendak (disponível entre nós em livro).
Com a alma de uma fábula, esta é uma história de alguém que, por si e num mundo desconhecido e diferente, acaba por aprender o que é a solidão e como lidamos com os outros. Ele chama-se Max, é ignorado pela irmã adolescente e não tolera o facto de a mãe, separada, estar a aceitar a entrada de mais alguém na sua vida… Foge de casa, encontra um barco e dá por si numa ilha onde conhece uns monstros bonacheirões, com ar de primos dos Marretas (foram, de resto, concebidos pela Jim Henson’s Creature Shop). As histórias que Max lhes conta deixam-nos impressionados e, em vez de o comer, elegem-no rei. Porém, Max vai entender que reinar não é fácil. Até porque cada monstro tem uma personalidade vincada, todos eles perfeitos candidatos ao sofá de um psicoterapeuta, desde uma insistente “downer” com mau feitio a uma cabra sempre resignada, a quem ninguém liga… Com vozes de figuras como Paul Dano ou James Gandolfini e a música de Karen O (dos Yeah Yeah Yeahs) e de alguns amigos mais, O Sítio das Coisas Selvagens reencontra o poder de encantar do cinema e é mesmo o primeiro grande acontecimento no grande ecrã de 2010.
Imagens do trailer de O Sítio das Coisas Selvagens, que usa música dos Arcade Fire (todavia não representada depois no filme).