terça-feira, janeiro 05, 2010

Michael Haneke: palavras cortantes

Michael Haneke não tem ilusões sobre a contemporaneidade dos filmes, a ponto de considerar que alguns dos mais modernos estão entre os... antigos — este texto foi publicado no Diário de Notícias (2 de Janeiro), com o título 'Haneke e a simplicidade'.

“Tal como disse Brecht, a simplicidade é a coisa mais difícil de conseguir. Toda a gente ambiciona fazer coisas com simplicidade e, ao mesmo tempo, impregná-las com a diversidade do mundo. Só os melhores conseguem. Kiarostami tem isso, tal como Bresson. Mas devo dizer que vejo poucos novos filmes; costumava ver mais, mas agora vejo sobretudo filmes mais antigos, em casa. Sinto-me mais compensado quando revejo Dreyer ou outros clássicos. Dizem-me mais sobre o mundo de hoje que os filmes de hoje!”
Palavras cortantes, sem dúvida. São de Michael Haneke e podem ler-se numa entrevista à revista Film Comment. Mesmo não partilhando tal cepticismo, há no seu discurso uma paixão pela memória que, mais do que nunca, importa valorizar. Afinal de contas, vivemos numa cultura (televisiva) em que a densidade do tempo deu lugar à irrisão efémera do fait divers. Convém ainda recordar que o mais recente filme de Haneke, O Laço Branco, ganhou em 2009 a Palma de Ouro de Cannes e os Prémios do Cinema Europeu. Por cá, estreia no dia 14.