Clint Eastwood, Morgan Freeman (no papel de Nelson Mandela) e Matt Damon (François Pienaar, capitão da selecção râguebi da África do Sul na Taça do Mundo de 1995): é este o trio de Invictus — este texto foi publicado no Diário de Notícias (27 de Janeiro), com o título 'Ainda há heróis humanos?'.
Sempre que surge um filme centrado numa actividade desportiva, uma onda de pessimismo percorre alguns sectores da distribuição/exibição e até do próprio jornalismo: estarão os espectadores interessados nas especificidades de um determinado jogo? Lembro-me de tais dúvidas a propósito do belíssimo Campo de Sonhos, de Phil Alden Robinson, sobre a insólita construção de um campo de basebol. Foi um dos grandes sucessos do Verão americano de 1989, mas não se trata de endeusar a estatística (para a exploração demagógica dos números das bilheteiras, já basta o que basta). O que interessa avaliar são os acontecimentos e personagens com que, através do desporto, somos confrontados.
Assim, não creio que a nossa relação com Invictus dependa do maior ou menor conhecimento que possamos ter do râguebi, nem sequer da memória da vibrante Taça do Mundo de 1995, na África do Sul. Num mundo dominado por heróis mais ou menos virtuais, não poucas vezes caracterizados pela mera força bruta, a questão colocada por Clint Eastwood é de outra natureza. E a candura da respectiva formulação está longe de apagar a sua importância simbólica. Ou seja: será que ainda nos interessamos por heróis humanos?
Invictus não é um filme de super-heróis, muito menos de explosões mais ou menos digitais. É, isso sim, a história comovente de dois homens, Nelson Mandela (Morgan Freeman) e François Pienaar (Matt Damon), que percebem as intensidades de um momento em que o râguebi pode ser, de uma só vez, um factor de união nacional e um princípio, escasso mas essencial, para lidar com os traumas de um passado comum. Clint Eastwood preserva, deste modo, os valores clássicos de Hollywood que encarnam na referência tutelar de John Ford: até prova em contrário, a história continua a ser feita por gente de carne e osso.
Sempre que surge um filme centrado numa actividade desportiva, uma onda de pessimismo percorre alguns sectores da distribuição/exibição e até do próprio jornalismo: estarão os espectadores interessados nas especificidades de um determinado jogo? Lembro-me de tais dúvidas a propósito do belíssimo Campo de Sonhos, de Phil Alden Robinson, sobre a insólita construção de um campo de basebol. Foi um dos grandes sucessos do Verão americano de 1989, mas não se trata de endeusar a estatística (para a exploração demagógica dos números das bilheteiras, já basta o que basta). O que interessa avaliar são os acontecimentos e personagens com que, através do desporto, somos confrontados.
Assim, não creio que a nossa relação com Invictus dependa do maior ou menor conhecimento que possamos ter do râguebi, nem sequer da memória da vibrante Taça do Mundo de 1995, na África do Sul. Num mundo dominado por heróis mais ou menos virtuais, não poucas vezes caracterizados pela mera força bruta, a questão colocada por Clint Eastwood é de outra natureza. E a candura da respectiva formulação está longe de apagar a sua importância simbólica. Ou seja: será que ainda nos interessamos por heróis humanos?
Invictus não é um filme de super-heróis, muito menos de explosões mais ou menos digitais. É, isso sim, a história comovente de dois homens, Nelson Mandela (Morgan Freeman) e François Pienaar (Matt Damon), que percebem as intensidades de um momento em que o râguebi pode ser, de uma só vez, um factor de união nacional e um princípio, escasso mas essencial, para lidar com os traumas de um passado comum. Clint Eastwood preserva, deste modo, os valores clássicos de Hollywood que encarnam na referência tutelar de John Ford: até prova em contrário, a história continua a ser feita por gente de carne e osso.