Realizador, crítico e ensaísta, autor de A Minha Noite em Casa de Maud, A Marquesa d'O e A Inglesa e o Duque, Eric Rohmer é um dos nomes fulcrais da geração da Nova Vaga francesa — de seu nome verdadeiro Jean-Marie Maurice Schérer, faleceu hoje, dia 11 de Janeiro, contava 89 anos.>>> Trailer de A Minha Noite em Casa de Maud (1969), legendas em inglês.
1959 foi a fronteira decisiva de afirmação da Nova Vaga, com os filmes Os 400 Golpes (Truffaut), O Acossado (Godard) e Hiroshima Meu Amor (Alain Resnais). Embora menos lembrado, é também nesse ano que Rohmer assina a sua primeira longa-metragem, Le Signe du Lion. Desde essa história insólita de um homem que se comporta como receptor antecipado de uma herança (que, afinal, não vai chegar), o seu cinema afirma duas vertentes essenciais: a metódica decomposição de todas as ambivalências da moral e o valor determinante, ao mesmo tempo dramático e existencial, da palavra. A sua primeira série, 'Seis Contos Morais' — a que pertencem A Coleccionadora (1966), A Minha Noite em Casa de Maud (1969) e O Joelho de Claire (1970) — é a expressão modelar de tais vertentes, com histórias (do próprio Rohmer) escritas a partir de um mesmo dispositivo: um homem conhece uma mulher e, quando parece fixar-se nela, vive uma aventura/deriva com outra. >>> Trailer de O Joelho de Claire (1970), sem legendas.
A sua filmografia encerra com três títulos magníficos: A Inglesa e o Duque (2001), espantoso exercício de cinema histórico alicerçado numa visão politicamente muito pouco correcta da Revolução Francesa; Agente Triplo (2004), uma história de espiões em vésperas da Segunda Guerra Mundial filmada como uma estonteante guerra de palavras e aparências; enfim, Os Amores de Astrea e de Celadon (2007), adaptando de forma deliciosamente lírica um clássico da literatura francesa do séc. XVII.
>>> Devolvamos então à câmara o que só a ela pertence. Não é contudo suficiente dizer que o cinema é a arte do movimento. Ele é, sim, o único que faz da mobilidade um fim e não a busca de um equilíbrio perdido. Contemplemos dois bailarinos: o nosso olhar só se sente satisfeito quando o jogo de forças se anula. Toda a arte da dança não é mais do que composição de figuras e o próprio movimento é nela simples questão de inércia. Pense-se porém em Harold Lloyd a gesticular do alto dos seus andaimes ou no gangster que espera por uma falta de atenção do polícia para se apossar da arma que o ameaça. Estabilidade, movimento perpétuo, eis outras tantas violentações sobre a natureza. A mais realista das artes ignora-as com toda a inocência.