Branca de Neve e os Sete Anões [cartaz] é mais rentável que Avatar. Porque é que os números do cinema são tratados de forma tão ligeira e tão fútil? — este texto foi publicado no Diário de Notícias (24 de Janeiro).
As receitas de Avatar nas salas americanas aproximam-se dos 550 milhões de dólares. Quer isso dizer que faltarão poucos dias para que, em todo o mundo, surjam manchetes a proclamar o filme como o mais rentável de sempre, superando os 600 milhões de Titanic (um e outro realizados por James Cameron). O facto, como é óbvio, merece ser assinalado: mesmo os que consideram Avatar um produto menor na evolução dos conceitos narrativos de Hollywood (é o meu caso) reconhecem, serenamente, que está em jogo uma importante evolução tecnológica, industrial e estética.
Por isso mesmo, vale a pena questionar a mentira que, tantas vezes, se cola a estes números. E tanto mais quanto quase ninguém tenta compreendê-los a partir dos custos de produção e promoção (não divulgados no caso de Avatar, embora fontes americanas admitam que a produção poderá ter ficado próximo dos 300 milhões, sendo normal a publicidade custar um valor idêntico à fabricação).
São valores que decorrem de um contexto: 600 milhões de dólares no ano de 2010 não significa o mesmo que há 13 anos, quando surgiu Titanic. Corrigindo as receitas em função da taxa de inflação (e do preço dos bilhetes), a performance de Titanic continua a ser muito superior à de Avatar, já que os seus 600 milhões correspondem a 943 milhões na actualidade (dados calculados pela própria indústria americana).
A história económica dos filmes não pode ser feita como se fosse um concurso estúpido para decidir quem exibe o cartaz com mais zeros à direita. Além do mais, a histeria estatística vai banalizando a própria história das formas narrativas. Exemplo? O Estranho Caso de Benjamin Button quase nunca é citado como um momento revolucionário na mesma conjuntura de produção digital a que pertence Avatar. Porquê? Porque, nas salas dos EUA, “apenas” acumulou 127 milhões de dólares.
O pano de fundo de tudo isto é, naturalmente, a reconversão do cinema como fenómeno de consumo. Dito de outro modo: há décadas que tem vindo a diminuir o número de espectadores nas salas. A situação torna-se ainda mais clara quando recuamos no tempo. Assim, o filme mais rentável de sempre continua a ser E Tudo o Vento Levou (1939), já que as suas receitas, cerca de 200 milhões, correspondem a um valor próximo dos 1500 milhões, quase o triplo daquilo que Avatar conseguiu até agora. Na lista de receitas corrigidas pela inflação, Avatar surge não em primeiro, mas no 30º lugar. No Top 10, o único filme dos últimos 25 anos é Titanic (6º lugar). Por exemplo, Branca de Neve e os Sete Anões (1937) ocupa o 10º lugar com 800 milhões de receitas.
O mais bizarro de tudo isto é o facto de, mediaticamente (inclusive em alguns sectores da crítica de cinema), prevalecer um discurso preconceituoso sobre o cinema americano como uma “fábrica” de dólares... E, no entanto, os seus números são tratados como se fossem um aval automático e inquestionável. Por mim, devo dizer que continuo a considerar, globalmente, o cinema americano como o mais criativo e fascinante do mundo. Com muitos ou poucos zeros.
As receitas de Avatar nas salas americanas aproximam-se dos 550 milhões de dólares. Quer isso dizer que faltarão poucos dias para que, em todo o mundo, surjam manchetes a proclamar o filme como o mais rentável de sempre, superando os 600 milhões de Titanic (um e outro realizados por James Cameron). O facto, como é óbvio, merece ser assinalado: mesmo os que consideram Avatar um produto menor na evolução dos conceitos narrativos de Hollywood (é o meu caso) reconhecem, serenamente, que está em jogo uma importante evolução tecnológica, industrial e estética.
Por isso mesmo, vale a pena questionar a mentira que, tantas vezes, se cola a estes números. E tanto mais quanto quase ninguém tenta compreendê-los a partir dos custos de produção e promoção (não divulgados no caso de Avatar, embora fontes americanas admitam que a produção poderá ter ficado próximo dos 300 milhões, sendo normal a publicidade custar um valor idêntico à fabricação).
São valores que decorrem de um contexto: 600 milhões de dólares no ano de 2010 não significa o mesmo que há 13 anos, quando surgiu Titanic. Corrigindo as receitas em função da taxa de inflação (e do preço dos bilhetes), a performance de Titanic continua a ser muito superior à de Avatar, já que os seus 600 milhões correspondem a 943 milhões na actualidade (dados calculados pela própria indústria americana).
A história económica dos filmes não pode ser feita como se fosse um concurso estúpido para decidir quem exibe o cartaz com mais zeros à direita. Além do mais, a histeria estatística vai banalizando a própria história das formas narrativas. Exemplo? O Estranho Caso de Benjamin Button quase nunca é citado como um momento revolucionário na mesma conjuntura de produção digital a que pertence Avatar. Porquê? Porque, nas salas dos EUA, “apenas” acumulou 127 milhões de dólares.
O pano de fundo de tudo isto é, naturalmente, a reconversão do cinema como fenómeno de consumo. Dito de outro modo: há décadas que tem vindo a diminuir o número de espectadores nas salas. A situação torna-se ainda mais clara quando recuamos no tempo. Assim, o filme mais rentável de sempre continua a ser E Tudo o Vento Levou (1939), já que as suas receitas, cerca de 200 milhões, correspondem a um valor próximo dos 1500 milhões, quase o triplo daquilo que Avatar conseguiu até agora. Na lista de receitas corrigidas pela inflação, Avatar surge não em primeiro, mas no 30º lugar. No Top 10, o único filme dos últimos 25 anos é Titanic (6º lugar). Por exemplo, Branca de Neve e os Sete Anões (1937) ocupa o 10º lugar com 800 milhões de receitas.
O mais bizarro de tudo isto é o facto de, mediaticamente (inclusive em alguns sectores da crítica de cinema), prevalecer um discurso preconceituoso sobre o cinema americano como uma “fábrica” de dólares... E, no entanto, os seus números são tratados como se fossem um aval automático e inquestionável. Por mim, devo dizer que continuo a considerar, globalmente, o cinema americano como o mais criativo e fascinante do mundo. Com muitos ou poucos zeros.