sábado, dezembro 12, 2009

Televisão, publicidade e... futebol

Televisão em família, 1958
Foto
WIKIPEDIA

De que falamos quando falamos de publicidade (e futebol) em televisão? E, sobretudo, do que não falamos? — estas duas alíneas integravam um texto publicado no Diário de Notícias (11 de Dezembro), com o título 'Imagens & linguagens'.

A. Quando, num debate, alguém refere que nenhum problema do presente pode ser separado da sua percepção televisiva, há sempre um “moderador” que lembra que não é isso que se está a discutir... Ou seja: a televisão recalca as suas próprias linguagens. Não admira que ninguém lance qualquer ideia sobre os discursos publicitários: são muitos os rostos dramáticos para nos falar da crise em que vivemos, mas ninguém questiona, por exemplo, os anúncios natalícios que pintam o mundo como um paraíso consumista. Mais ainda: quase todos sustentam piedosos discursos sobre a necessidade de “proteger” as nossas crianças, mas ninguém se interroga sobre os valores que, todos os dias, a todas as horas, a publicidade lhes inculca.

B. As televisões desistiram de qualquer autocrítica (jornalística) em relação ao tratamento do futebol. Aliás, desistiram de qualquer consideração meramente quantitativa sobre os tempos da sua abordagem. A pergunta (jornalística, justamente) que, a meu ver, importaria colocar é esta: se é possível ocupar horas de emissão a perorar sobre os penalties bem ou mal marcados e as cores dos cartões mostrados e por mostrar, por que são tão raros os minutos a fruir as maravilhas dos grandes lances de futebol? Além do mais, hoje em dia, a tecnologia permite ver e compreender esses lances através de uma espectacular diversidade de imagens... Como sempre, as imagens (e os sons) que se difundem não têm nada de natural, muito menos de naturalismo: são escolhas.