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É verdade: subitamente, neste Outono, o mercado português revela-nos uma produção norueguesa. Escusado será sublinhar que os filmes não se avaliam pela sua origem geográfica... Mas é um facto que os mercados se definem
também pela capacidade (ou incapacidade) de favorecer o máximo de diversidade na sua oferta. E é muito agradável poder descobrir
A Nova Vida do Sr. O'Horten [cartaz alemão, incluindo referência à passagem na secção 'Un Certain Regard', de
Cannes 2008], uma crónica social que se transfigura em discreta parábola sobre as atribulações do envelhecimento.
Escrito e dirigido por Bent Hamer, o filme segue a trajectória mais ou menos ziguezagueante do Sr. O'Horten (Bard Owe, excelente), um condutor de comboios que, aos 67 anos, enfrenta os paradoxos da idade da reforma — uma súbita reabertura ao mundo e também uma reforçada sensação de solidão. Tudo encenado num minimalismo que recusa a simbologia fácil, preferindo manter-se próximo dos sinais mais delicados das relações humanas. Tudo também em norueguês universal.