Primeiras impressões em três contradições — ou como esta imagem da rodagem de Avatar, de James Cameron (com a avaliação prévia de uma das suas imagens compósitas), resume o interesse factual, a importância histórica e também os muitos impasses do filme:
> 1ª contradição, técnica: passou-se de um método de trabalho especificamente cinematográfico para um dispositivo de produção de imagens cuja raiz, mais do que no digital, está nos jogos de video. A composição do espaço (e do tempo) deu lugar a uma mera técnica do "acontecimento": é preciso que, em cada imagem, alguma agitação/explosão abale a quietude das superfícies.
> 2ª contradição, estética: faz-se um filme com todo um novo aparato — as três dimensões ou 3-D — sem pensar sistematicamente os efeitos desse aparato nos vectores especificamente cinematográficos do espaço e do tempo. Em boa verdade, já não se reconhece a história que se conta como o motor e justificação desses vectores: a produção de "atracções" visuais desvalorizou o contar de uma história.
> 3ª contradição, económica: tendo em conta que fazer um filme como Avatar custa muitos milhões de dólares (300, segundo algumas fontes), incomportáveis para uma produção regular (mesmo numa indústria poderosíssima como a americana), como sustentar um mercado que está a ser forçado a equipar-se, aceleradamente, com o digital e o 3-D? Será que alguém, nos EUA, está a pensar a velhíssima — e decisiva — questão dos equilíbrios instáveis entre produção, distribuição e exibição? E na Europa?