Hoje, as televisões voltaram a ter aquilo que tanto prezam: uma vítima para sacrificar no seu altar. Subitamente, fazendo zapping pelos noticiários das 13h00, todos — sublinho: todos — privilegiavam a demissão do treinador do Sporting, secundarizando, por exemplo, a discussão do programa de Governo na Assembleia da República, a situação legal de Armando Vara, o assassinato de treze pessoas num quartel do Texas, etc., etc.
Escusado será dizer que não se trata de um drama meramente desportivo. Claro que é, no mínimo, insólito que se assista a um coro mediático objectivamente contra Paulo Bento, num contexto em que, na Liga Europa, o Sporting tem mais pontos (e, sobretudo, uma mais confortável situação para seguir para a fase seguinte) do que equipas como Ajax, Valencia, Roma, Fulham, Lazio, Villarreal, Everton, Sparta de Praga e Atlético de Bilbau. Em todo o caso, a questão do "muito" ou "pouco" mérito de Paulo Bento como treinador é irrelevante para avaliarmos o seu processo de martirização mediática.
O que está em jogo é outra coisa. E de outra natureza. Não tem a ver com o Sporting, nem com qualquer outro clube. Tem a ver, isso sim, com a necessidade de promover "heróis" ou "vítimas" por parte de um sistema de informação que vive, sobretudo, da procura de situações extremas e extremadas: o que conta é a simples e desumana possibilidade de encontrar um alvo preferencial.
Não fará sentido dizer que foram as televisões que demitiram Paulo Bento. Mas vale a pena, pelo menos, imaginar o que (não) estaria a acontecer se, nas últimas semanas, ele não tivesse sido tratado como personagem sacrificial de uma ficção apocalíptica.