Há qualquer coisa de vagamente obsceno — em boa verdade, de puro logro informativo — no modo como, regra geral, são mediaticamente tratados os números de bilheteira do cinema americano. Claro que os filmes não são "melhores" nem "piores" por custarem (ou renderem) muitos ou poucos dólares... Mas é um facto que a complexidade da vida económica dos filmes tende a ser reduzida a uma corrida histérica em que, em boa verdade, só podem "ganhar" os títulos que envolvam muitos milhões.
Veja-se o caso de 2012, de Roland Emmerich. Para onde quer que nos viremos, há notícias sobre as suas "espectaculares" receitas (com um subtexto simplista: "filme-espectáculo" = "receitas-espectáculo"). Pois bem, os 65 milhões de dólares acumulados no mercado americano constituem apenas uma parcela do seu orçamento de 200 milhões — ainda mais reduzida se nos lembrarmos que, de acordo com o funcionamento da indústria de Hollywood, há um investimento promocional equivalente a pelo menos 50 por cento dos custos de produção (neste caso, portanto, devemos somar, no mínimo, mais 100 milhões nas despesas). Se considerarmos os valores do mercado internacional, então 2012 vai, neste momento, com receitas de 230 milhões, ainda assim um valor inferior às despesas acumuladas (produção + promoção).
Veja-se o caso de 2012, de Roland Emmerich. Para onde quer que nos viremos, há notícias sobre as suas "espectaculares" receitas (com um subtexto simplista: "filme-espectáculo" = "receitas-espectáculo"). Pois bem, os 65 milhões de dólares acumulados no mercado americano constituem apenas uma parcela do seu orçamento de 200 milhões — ainda mais reduzida se nos lembrarmos que, de acordo com o funcionamento da indústria de Hollywood, há um investimento promocional equivalente a pelo menos 50 por cento dos custos de produção (neste caso, portanto, devemos somar, no mínimo, mais 100 milhões nas despesas). Se considerarmos os valores do mercado internacional, então 2012 vai, neste momento, com receitas de 230 milhões, ainda assim um valor inferior às despesas acumuladas (produção + promoção).
Entretanto, no mercado americano, O Delator!/The Informant!, de Steven Soderbergh, já acumulou 33 milhões de dólares de receita, ou seja, cerca de metade de 2012. Com uma pequena diferença: os custos de produção (22 milhões) são quase um décimo dos de 2012. Dito de outro modo: o índice de rentabilidade de O Delator! é incomparavelmente superior ao de 2012. Isto sem esquecermos alguns outros exemplos curiosos, ainda das salas dos EUA: Sacanas sem Lei, de Quentin Tarantino, custou 70 e já rendeu 120 milhões; Julie & Julia, de Nora Ephron (estreia esta semana em Portugal), custou 40 e já rendeu 93 milhões. Como contraponto, lembremos que o último Harry Potter já acumulou 301 milhões de receitas, mas custou (só para ser produzido) 250 milhões.
A pergunta é esta: que jornalismo é este que nos lança milhões à cara, ocultando a necessária relativização dos números de qualquer actividade económica? Os filmes, insisto, não se medem aos dólares... Mas se informar é ajudar a compreender, já era tempo de acabar com as "notícias" que se publicam apenas porque, algures, há um número com muitos zeros.
A pergunta é esta: que jornalismo é este que nos lança milhões à cara, ocultando a necessária relativização dos números de qualquer actividade económica? Os filmes, insisto, não se medem aos dólares... Mas se informar é ajudar a compreender, já era tempo de acabar com as "notícias" que se publicam apenas porque, algures, há um número com muitos zeros.