quarta-feira, novembro 25, 2009

Em conversa: Nico Muhly (3/3)

E aqui fica a terceira parte da apresentação de uma entrevista com o compositor Nico Muhly que serviu de base aos artigos ‘Um Músico Para Descobrir Na Hora Certa’ e ‘Encarar a música como um trabalho’, publicados no DN respectivamente a 5 e 14 de Novembro.

Nos últimos anos tem feito também música para o cinema. É parte do que vê como um trabalho. Ou a extensão natural da procura de uma linguagem musical?
É um pouco as duas coisas. Podemos fazer uma música explicitamente dramática... E um filme junta umas 25 peças de música que estão todas relacionadas entre si. Temos de saber que extensão devem ter as peças. Que orçamento temos para as trabalhar?... Qual é a agenda emocional que as vai usar? Tudo isso tem de ser decidido. E depois ao compositor cabe o desafio de tentar fazer a coisa mais fabulosa que souber, combinando tudo isso... E nesse momento temos de convocar um pouco de todo o que sabemos. Tudo o que aprendemos na escola, tudo o que já escutámos... Roubamos um pouco... É um processo que tem de ser rápido... Gosto de trabalhar dessa maneira. Há uma certa pressão. E um lado muito prático.

É um pouco o oposto daquela vontade de compor para si mesmo. Coloca-se a folha sobre o piano... E depois como se decide para onde se vai?
Se alguém nos pede uma peça para um concerto a coisa é muito simples: dizem-nos essencialmente que é para 22 minutos, para violino e orquestra, e estreia daí a dois anos... E adeus!... Com um filme temos de reunir todas as manhãs, ver pormenores na montagem, fazer acertos. É uma pressão enorme, mas acho isso bem divertido. A escrita de música é um processo muito solitário. Mas quando se trabalha num filme não se pode estar só...

O filme O Leitor, de Stephen Daldry, para o qual assinou a banda sonora, teve orçamento definido, objectivos concretos e, depois, uma história mediática de grande exposição... Compensou?
Sim, acho que sim. Foi um processo muito estimulante. O realizador é um ser humano muito prático. Falava do que queria segundo um vocabulário muito específico. Dizia que isto teria sucesso e aquilo não... O que é óptimo... Porque me fazia sentir se as coisas estavam ou não a funcionar. E de certa maneira esta forma de trabalhar e de pensar o que estávamos a fazer fez-me voltar um pouco aos dias em que estudava com o John Corrigliano. Quando me perguntava qual era o programa emocional... Que momentos temos, que conteúdo... Que nuances...

Quando estreia a ópera que acabou de compor?
É lá para 2018 ou algo parecido... Nem penso nisso...

Como consegue esperar tanto tempo?
Na verdade há outras ocasiões em que pode estrear antes...

Mas não lhe é difícil esperar?
Não... E por uma razão simples. Acabamos, mostramos a peça a quem a temos de mostrar e avançamos para os muitos outros projectos que temos em carteira...

Gosta de estar num palco?
Adoro! É divertido. E é muito menos solitário que quando estou a compor. É bom faze-lo com outras pessoas. E sobretudo quando essas pessoas são nossas amigas. E é mesmo divertido... É como darmos um jantar com amigos. Estar só em palco é aterrorizador.