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A informação televisiva transformou-me num espectador alarmado e alarmista. É uma doença que já não controlo. Assim, na segunda-feira [26 de Outubro], à saída da tomada de posse do Governo, ouvi um cândido ministro candidamente confessar que o novo titular da sua pasta tivera a amabilidade de lhe ceder o carro ministerial para que ele regressasse a casa. De imediato, a minha nevrose fez-me temer pelos dois: na minha cabeça, vi claramente visto os telejornais de toda a semana a abrir com o “escândalo” do ministro que tinha emprestado o seu carro para um ministro que já não era ministro...
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Duvidem, por isso, das apreciações que se seguem. Em todo o caso, sinto que devo partilhar convosco os meus temores. Fazendo zapping pelas notícias da tomada de posse, dei-me conta desta monotonia: o Presidente garantiu que vai manter uma atitude institucional e colaboradora, enquanto o primeiro-ministro (claramente falho de imaginação) prometeu ser... institucional e colaborador. Nem um nem outro se atreveram a dizer muito mais, mas as notícias insinuavam um subtexto empolgante: não há-de faltar muito para que os dois andem à pancada (institucional, entenda-se).
Foi uma segunda-feira difícil, garanto-vos. Terminado o Benfica-Nacional, quis perceber como estão a ser futebolisticamente avaliadas as sucessivas goleadas dos encarnados, mas também não tive sorte. Para onde quer que me virasse, só se especulava sobre o conflito “pessoal” entre os respectivos treinadores. Deduzi mesmo que qualquer um deles tem sérias hipóteses de ser o nosso próximo primeiro-ministro. Aliás, vendo bem... peço desculpa por este abrupto final de crónica, mas vou voltar a ligar o televisor: pode bem ser que o Governo já tenha caído. Nunca se sabe: de vez em quando, as televisões ficam felizes.