
A terceira longa-metragem de João Pedro Rodrigues aprofunda e leva bem mais longe (e a melhor destino) uma série de reflexões sobre a identidade de género que já haviam aflorado em Odete. É a história de Tónia (Fernando Santos), veterana do espectáculo de travesti, com 20 anos de palcos, um filho em fuga e uma relação instável com um jovem que nela procura um aconchego quase maternal. Encontramos Tónia algures em Lisboa, numa etapa já decadente da sua vida profissional, questionando a eventualidade de u(ma operação de mudança de sexo, seguindo-a depois numa viagem na qual procura segurar perto de si os pedaços de chão seguro que tem à sua volta. E acompanhamo-la mais tarde, já assombrada pela doença (de que faz segredo a todos), num definitivo debate interior, sobre a sua própria identidade.
Trabalhando com actores não profissionais (opção arriscada, mas aqui com final feliz), propondo um argumento sólido e uma cada vez mais evidente afirmação de marcas de uma identidade cinematográfica muito pessoal, João Pedro Rodrigues traz-nos em Morrer Como Um Homem um filme em tudo capaz de secundar os feitos de O Fantasma, senão mesmo superá-los. É, sem dúvida, um dos grandes filmes do ano. E a definitiva consagração de um dos nomes maiores do cinema português do nosso tempo.
Imagens do trailer de Morrer como um Homem, filme que desde ontem está em exibição nas salas portuguesas.