sábado, outubro 10, 2009

"Orgulho e Glória": um policial familiar

Duas componentes essenciais fazem com que Orgulho e Glória (Pride and Glory), de Gavin O'Connor, escape às convenções mais automáticas do género policial (tanto cinematográficas como televisivas). A primeira é o seu calculado cruzamento com as matrizes do melodrama familiar, narrando uma história de corrupção na polícia de Nova Iorque como um teste à própria unidade afectiva e moral de uma família (com vários membros polícias); a segunda, porventura menos óbvia, mas não menos importante nas nuances que introduz na acção, é o peso psicológico e simbólico das personagens femininas enquanto "retaguarda" de um modo de vida dominado por valores masculinos.
Com um magnífico leque de actores — Edward Norton, Colin Farrell, Jon Voight, Jennifer Ehle, Raquel Jordan, etc. —, O'Connor consegue, afinal, reencontrar algo da herança dos grandes policiais das décadas de 70/80, em particular os que foram dirigidos por Sidney Lumet. Lembremos, em particular, O Príncipe da Cidade/Prince of the City (1981), com Treat Williams, fascinante desmontagem de um inquérito à corrupção policial que afirma a vitalidade de um realismo específico, entre outros aspectos indissociável do trabalho de um grande director de fotografia como Andrzej Bartkowiak (de origem polaca, fotografou onze filmes de Lumet, incluindo O Veredicto, com Paul Newman, em 1982). O americano Declan Quinn, responsável pelas imagens de Orgulho e Glória, é um herdeiro muito directo desse realismo, contando entre os seus trabalhos Morrer em Las Vegas (1995), de Mike Figgis, e Na América (2002), de Jim Sheridan.