Eis o que se chama uma frase promocional obscena: "O livro mais esperado de sempre". Aliás, a campanha de O Símbolo Perdido é, toda ela, de um simplismo atroz. Chega-se ao respectivo site e, além do booktrailer [de onde é retirada esta imagem], há um link para aquilo que está identificado como "mensagem do autor aos leitores portugueses". Ou seja: Dan Brown surge a falar para uma câmara, diz "Hello, Portugal" e acrescenta: "Passei um tempo magnífico a escrever O Símbolo Perdido e espero que passem um tempo magnífico a lê-lo" — dura 7 segundos e... acabou. Podemos, aliás, imaginar, do outro lado do mundo, um incauto cidadão, nosso irmão internáutico, a ver/ouvir outros 7 segundos que começam por qualquer coisa como "Hello, New Zeland"...
Espero que me compreendam: não se trata de "julgar" os compradores do livro — cada um é livre de consumir o que muito bem entender. Trata-se, isso sim, de observar que vivemos num país católico em que este tipo de mercantilismo dos livros, da cultura, da relação dos criadores com os leitores, não suscita a mais pequena reacção (já não digo de indignação, mas apenas de dúvida metódica). E, no entanto, um escritor como José Saramago escreve um livro e tanto basta para que os vigilantes dos bons costumes nos venham alertar para as ameaças que pairam sobre a nossa civilização. Portugal, hello...