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Aqui ficam três exemplos de ligações directas entre o mundo político e a ópera dos nossos dias, em obras que aproximam assim a criação artística do universo que corre, no mundo real, à nossa volta. Distante, portanto, dos contos feitos de mitologias, heróis e tragédias que em tempo dominavam os palcos.
Steve Reich - ‘Three Tales’ (2002)
Three Tales, de Steve Reich e Beryl Kotot é um espectáculo multimedia no qual a música e a imagem (em vídeo) têm igual protagonismo. O compositor não lhe chama ópera, mas há aqui afinidades com a forma como esta forma musical hoje é encarada. Na berlinda está uma série de reflexões sobre grandes acontecimentos do século XX, nomeadamente o acidente do zeppelin Hidenburg (nas imagens), as experiências atómicas no atol de Bikini e a ovelha Dolly. Não é a primeira obra política de Steve Reich, devendo trabalhos seus sobre o Holocausto (Different Trains) ou a memória de Daniel Pearl (Daniel Variations) ser igualmente tidos em contas no retrato desta importante faceta do seu trabalho.
John Adams - ‘Dr. Atomic’ (2005)
O compositor John Adams tem levado a várias das suas óperas questões políticas do nosso tempo. Quando se estreou, com Nixon In China, em 1987, evocou através da ópera (hoje apontada entre as referências maiores da música do final do século XX) a histórica viagem de Nixon à China em 1972, fazendo do presidente Nixon e de Mao Tse Tung os seus protagonistas. Adams voltou a explorar outros instantes da história do século XX em The Death Of Klinghoffer (1991), onde recorda o sequestro do navio Achille Lauro e o mais recente Dr. Atomic (2005), sobre os dias que antecederam o teste da primeira explosão atómica.
Philip Glass - ‘Satyagraha’ (1980)
A segunda das óperas-retrato de Philip Glass (as restantes sendo Einstein On The Beach e Akhnaten) centra-se na figura de Ghandi, numa etapa da sua vida na qual viveu na África do Sul. A obra de Philip Glass apresenta mais exemplos de uma identidade política quer em observações várias sobre o ambiente (em peças como, por exemplo, Itaipu) ou, usando um romance de Coetzee como base, na ópera Waiting For The Barbarians. Mais distante no tempo, o cenário que acolhe a sua ópera Appomattox (de 2007) evoca o final da guerra civil americana.