Acaba de chegar ao DVD no Reino Unido um dos mais interessantes exercícios de diálogo entre o cinema e a ópera. Trata-se de Aria (1987), uma colecção de curtas-metragens (como se de telediscos se tratasse) construídas em torno de arias de ópera, por realizadores como Nicholas Roeg, Ken Russell, Jean-Luc Godard ou Julien Temple. A nova edição acrescenta uma série de extras ao filme de 1987, nomeadamente um documentário com entrevistas com alguns dos nomes envolvidos, entre os quais o produtor Don Boyd e realizadores como Julien Temple ou Ken Russell. O filme pode também ser acompanhado por um comentário áudio de Don Boyd.
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São sobretudo magníficas as visões que Frank Roddam propõe sobre uma ária do Tristão e Isolda de Wagner, encenada em Las Vegas, contando no elenco com Bridget Fonda ou o desencanto urbano com que Charles Sturridge recria La Vergine Delle Angeli, de La Forza del Destino. Hilariante, o humor inesperado que acompanha a aventura de traição em dois sentidos (entre marido e mulher) que Julien Temple propõe sob fragmentos do Rigoletto, de Verdi, usando como cenário o muito flamboyant motel Madonna Inn, na Califórnia. A ligar as dez arias que o filme mostra, John Hurt surge numa série de curtas cenas, terminando ele a dar corpo a Vesti La Giubba, da ópera Os Palhaços (de Leoncavallo), na célebre gravação de Enrico Caruso que, nos primeiros dias do século XX, foi o primeiro disco a vender mais de um milhão de unidades.