terça-feira, agosto 11, 2009

Sharon Stone, à letra


MARC LEVY - Quando se estreou Instinto Fatal, a imagem das suas pernas entreabertas fez correr mais tinta do que o facto de cometer assassinatos, friamente, com um picador de gelo...
SHARON STONE - Sim, é estranho observar como se aplica a moralidade. Nunca ninguém me disse: "Fiquei chocado por vê-la representar uma serial killer", mas quantas vezes me disseram que essa cena era chocante! Quer isso dizer que um sexo de mulher suscita mais medo que um picador de gelo! No mesmo ano [1992] saíu a adaptação de O Amante [de Jean-Jacques Annaud, baseado no romance homónimo de Marguerite Duras]. A jovem actriz [Jane March] estava muito mais exposta do que eu em Instinto Fatal, mas porque a sua nudez era sublimada pelo espectador, não incomodou ninguém. Eu encarnava uma personagem que tinha controlo sobre o seu corpo. A sua força e dominação, foi isso que chocou e não a nudez em si mesma; é a encarnação do poder sexual da mulher que perturba.

Este é um extracto de uma entrevista de Sharon Stone, conduzida pelo escritor Marc Levy e publicada na revista francesa Paris Match (6 de Agosto). Escusado será lembrar que, para além de algumas escolhas de carreira muito discutíveis (de que Instinto Fatal 2 não será, por certo, a mais benigna), Sharon Stone nunca se recusou a lidar com — e a falar sobre — os modos de exposição de uma star. Com sentido crítico, sem complexos. Isto sem esquecermos que a sua composição em Casino (1995), de Martin Scorsese, bastaria para lhe conferir um lugar de evidência na história moderna de Hollywood. O diálogo com Marc Levy é mais um exemplo de crua honestidade, de algum modo sublinhada pelas suas fotografias, assinadas por Alix Malka. O desafio implícito no título do texto de apresentação de Levy diz tudo: "Tenho 50 anos, e então!" — de facto, já tem 51 (completados a 10 de Março), mas é apenas um detalhe.

>>> Sobre Alix Malka.