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A história,
quand même, impõe-nos algumas obrigações. Que é como quem diz: atribuir a esta imagem o selo da "Material Girl", de Madonna, é uma perversão formal, compreensível, mas que importa corrigir. O teledisco de
Material Girl foi feito em 1985, mas a inspiração vinha de 1953, de uma canção de Marilyn Monroe (1926-1962),
Diamonds Are a Girl's Best Friend, no
filme Os Homens Preferem as Louras, de Howard Hawks. Esta imagem desse lendário quadro musical mostra-nos Marilyn naquele que seria, afinal, o momento fundador da sua vertente mais musical — e o nome fundamental para compreender o seu misto de sensualidade, elegância e auto-paródia não é Hawks, mas sim Jack Cole (1911-1974).
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A herança de Cole [foto] volta à actualidade a pretexto de um documen-tário —
Jack Cole: Jazz —, ainda por estrear. Pioneiro da dança-jazz, Cole viria a revelar-se uma figura essencial, não apenas na encenação de números musicais de Rita Hayworth, Betty Grabel ou Mitzi Gaynor, mas também como professor de movimentos e pose para muitas actrizes de Hollywood. Marilyn considerava-o fundamental para o seu trabalho, a ponto de ter garantido a sua colaboração quando assinou o seu derradeiro contrato (com a 20th Century Fox).
Cole dirigiu Marilyn em mais cinco filmes (sem que por isso seja necessariamente identificado nos respectivos genéricos):
Rio Sem Regresso (1954), de Otto Preminger,
Parada de Estrelas (1954), de Walter Lang,
Paragem de Autocarro (1956), de Joshua Logan,
Quanto Mais Quente Melhor (1959), de Billy Wilder, e
Vamo-nos Amar (1961), de George Cukor — memórias desses tempos lendários de Hollywood estão num belo artigo de Debra Levine, publicado pelo
Los Angeles Times.