domingo, agosto 02, 2009

Como um continente sem fronteiras

Um dos nomes maiores da música do século XX, Sergei Prokofiev (1891-1953) deu primeiros sinais de personalidade à sua música (e atitudes) ainda nos dias da rússia czarista. Em 1918 deixa o país pouco depois da revolução bolchevique, sentindo falta de espaço para uma música que não parecia caber na agenda do quotidiano local de então. Viveu longa temporada nos EUA, regressando a solo soviético apenas em 1933, mal imaginando que mergulharia num mundo muito diferente do que conhecera. Assinaria nos anos seguintes uma série de obras exemplares, umas aclamadas, outras atacadas como “formalistras” pelo regime Estalinista. A Sinfonia Concertante, que compôs para Mstislav Rostropovich no início dos anos 50 representa uma das suas últimas obras de grande fôlego, nada particularmente amiga dos apelos da “nova simplicidade” e acessibilidade que o estado fazia ao que entendia como a correcta “música soviética”. A obra assinlou o rencontro com o violoncelo, instrumento para o qual há muito não compunha depois de um primeiro concerto, alguns anos antes, não apenas ter merecido estreia aquém do que esperava como ter depois acabado por ser descrito como impossível de tocar… Na verdade Prokofiev viu Rostropovich a tocar esse seu concerto em Moscovo, em 1947, acabando compositor e violoncelista por estreitar uma amizade que conduziu não apenas à compoisição desta Sinfonia Concertante Op. 125, como uma Sonata para Violoncelo e Piano. Ambos trabalharam nesta obra maior durante dois Verões entre 1950 e 52, numa casa de campo…
Pieter Wispelwey, o violoncelista que assina estab nova gravação da Sinfonia Concertante de Prokofiev, juntamente com a Filarmónica de Roterdão (dir. Vassily Sinaisky), descreve o compositor como “um poliglota” e esta obra como “um continente sem fronteiras, numa viagem pelo estilo, tempo e tradição, como um depoimento pós modernista avant la lettre”. E acrescenta que esta obra traduz mais que o reescrever do velho concerto para violoncelo de que acima se falava. “Transformou-se numa obra ciclópica do pós-guerra, cheia de contrastes: sombria e luminosa, cruel e terna…” Palavras certeiras, a caracterizar uma visão sobre uma obra que se aprende a descobrir aos poucos e que aqui conhece espantosa abordagem nesta gravação editada pela Chanel Classics que acrescenta à obra de Prokofiev duas outras, uma suite de Alexander Tcherepnin e uma sonata de George Crumb.