Cinema com adultos, para adultos

Decididamente, não é fácil ser adulto e ser espectador de cinema. O mercado cinematográfico foi-se infantilizando — nos filmes, nas campanhas, nas ideias — e, globalmente, investe cada vez menos em objectos que não possam ser promovidos através de algum conceito mais ou menos "festivo". Não que um filme que vise um público mais jovem seja suspeito (seria, aliás, uma maneira estúpida de lidar com o imenso património histórico do cinema). Acontece que, na prática, filmes admiráveis como Nunca É Tarde Demais para Amar (Wolke 9), produção alemã dirigida por Andreas Dresen, são quase invisíveis — na prática, quando comparado com qualquer "Harry Potter", a propoção da sua ocupação do mercado é da ordem de um 1 para 80...
Adulto, o filme é-o, por assim dizer, de modo radical. Isto porque nele se conta a história de um triângulo amoroso entre uma mulher de 60 e muitos anos e dois homens com mais de 70. Estamos, então, perante a visão paternalista das telenovelas, com os "velhinhos" a serem reduzidos a caricaturas patéticas do género humano? Nada disso. Este é um melodrama puro e duro, bergmaniano até à medula, para mais servido por três actores admiráveis: Ursula Werner, Horst Rehberg e Horst Westphal. Seria uma pena que um filme destes passasse por aí sem o seu público potencial o descobrir — pior um pouco: sem que esse público saiba da sua existência.

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