Os filmes de Harry Potter chegaram ao grau zero da industrialização: nenhum trabalho dramatúrgico e a mera exibição de uma tecnologia sem alma — este texto foi publicado no Diário de Notícias (16 de Julho), com o título 'A agonia da grande aventura'.
Já se passaram quase oito anos desde o lançamento do primeiro título cinematográfico da saga “Harry Potter” (foi em Novembro de 2001). Entretanto, consta que alguns efeitos especiais do novo Harry Potter e o Príncipe Misterioso foram aplicados a “rejuvenescer” os seus actores principais (parecendo que não, Daniel Radcliffe, à beira de completar 20 anos, rodou o primeiro filme ainda com 11 anos). Não se trata, entenda-se, de censurar os processos de manipulação figurativa. Podemos mesmo perguntar: por que não? Afinal de contas, não vivemos no planeta de Michael Jackson em que o corpo-espectáculo existe como um objecto de permanentes e inusitadas transfigurações?
A questão que se levanta está para além do poder dos famosos efeitos especiais. O que importa reter é que os filmes de Harry Potter chegaram a um ponto de total fingimento em que o problema do “envelhecimento” dos actores principais é apenas um detalhe. Em 1981, Steven Spielberg lançou o magnífico Os Salteadores da Arca Perdida sob o signo de uma veemente palavra de ordem: “o regresso da grande aventura”. Agora, assistimos à metódica agonia da sua herança.
De facto, dir-se-ia que já ninguém se preocupa em fazer valer dois valores fundamentais da aventura: em primeiro lugar, a aplicação dos imensos e sofisticados recursos técnicos, não para serem exibidos como um fim em si mesmo, mas para servir o espectáculo; depois, a elaboração narrativa e a tensão dramática que é suposto a aventura conter. Aliás, em relação a este aspecto, a sinopse das longuíssimas duas horas e meia de Harry Potter e o Príncipe Misterioso poderia ser qualquer coisa como: não acontece nada até que, a poucos minutos do fim, há uma personagem que diz “o príncipe sou eu”. Pof!
Já se passaram quase oito anos desde o lançamento do primeiro título cinematográfico da saga “Harry Potter” (foi em Novembro de 2001). Entretanto, consta que alguns efeitos especiais do novo Harry Potter e o Príncipe Misterioso foram aplicados a “rejuvenescer” os seus actores principais (parecendo que não, Daniel Radcliffe, à beira de completar 20 anos, rodou o primeiro filme ainda com 11 anos). Não se trata, entenda-se, de censurar os processos de manipulação figurativa. Podemos mesmo perguntar: por que não? Afinal de contas, não vivemos no planeta de Michael Jackson em que o corpo-espectáculo existe como um objecto de permanentes e inusitadas transfigurações?
A questão que se levanta está para além do poder dos famosos efeitos especiais. O que importa reter é que os filmes de Harry Potter chegaram a um ponto de total fingimento em que o problema do “envelhecimento” dos actores principais é apenas um detalhe. Em 1981, Steven Spielberg lançou o magnífico Os Salteadores da Arca Perdida sob o signo de uma veemente palavra de ordem: “o regresso da grande aventura”. Agora, assistimos à metódica agonia da sua herança.
De facto, dir-se-ia que já ninguém se preocupa em fazer valer dois valores fundamentais da aventura: em primeiro lugar, a aplicação dos imensos e sofisticados recursos técnicos, não para serem exibidos como um fim em si mesmo, mas para servir o espectáculo; depois, a elaboração narrativa e a tensão dramática que é suposto a aventura conter. Aliás, em relação a este aspecto, a sinopse das longuíssimas duas horas e meia de Harry Potter e o Príncipe Misterioso poderia ser qualquer coisa como: não acontece nada até que, a poucos minutos do fim, há uma personagem que diz “o príncipe sou eu”. Pof!