Mais uma experiência em paralelo, desta vez envolvendo o vocalista dos Sigur Rós Jon Thor Birgisson (Jonsi) e Alex Sommers. O seu trabalho conjunto data de há já mais de cinco anos, tomando a primeira forma numa série de criações visuais, ora ao serviço da música dos Sigur Rós, ora ganhando depois vida própria em exposições na Islândia, mais tarde por outras paragens. Musicalmente, a parceria mostrou-se em dois singles e numa participação em Dark Was The Night, a mais recente compilação da Red + Hot Organization. Happiness, o tema que então cederam para esse disco surge agora como porta de entrada para o primeiro disco que editam como Jonsi & Alex. As afinidades com os Sigur Rós são evidentes, traduzindo o álbum uma busca de um sentido de espaço de melancolia essencialmente paisagista. E, evocando os momentos mais sinfonistas de algumas das canções do grupo, aprofundam um cuidado trabalho de arranjos, ocasionalmente experimentando novas abordagens ainda não experimentadas com a banda, num processo no qual contam com a colaboração das Amina (que já andaram na estrada com os Sigur Rós) e com um coro islandês. O álbum revela uma sucessão de belos quadros contemplativos instrumentais, alguns deles propondo caminhos que transcendem os espaços da cultura pop/rock, caminhando em terreno além fronteiras que revela o que parece ser um interesse por obras de alguns contemporâneos como Arvo Pärt ou John Tavener, contudo com um sentido de curiosidade intuitiva mais característico de quem chega da música popular. Para saborear…
Jonsi & Alex
“Riceboy Sleeps”
EMI Music Portugal
4 / 5
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Nos últimos tempos vimos uma série de novas vozes femininas a entrar em cena a bordo de uma vontade de tomar a pop e as electrónicas como ponto de partida para a exploração de personalidades, umas com mais, outras com menos, temperos de produção própria… E das estreantes que marcaram a agenda recente, a mais promissora parece ser a jovem Elly Jackson, natural de Brixton (Reino Unido) que se apresenta em duo com Bem Langmaid, juntos como La Roux. O formato evoca desde logo um modelo muito em voga em inícios de 80, quando muitas aventuras pioneiras da pop electrónica britânica se apresentavam a dois… Soft Cell, Pet Shop Boys, Blancmange, Yazoo… E é mais perto destes dois últimos nomes (nos Yazoo alargando o campo de observação ao trabalho de Vince Clarke nos Erasure) que a dupla La Roux encontra o ponto de partida para a construção de um álbum pop com todos os condimentos certos. Ou seja, firme numa escrita que sabe ser herdeira do melodismo clássico do género, com evidentes marcas de personalidade vocal, seguro na gestão dos registos sonoros evocados e independente de um qualquer sentido de preocupação em seguir as regras de produção que faz os êxitos mais “inevitáveis” do momento. É este o cocktail, que vinca uma independência da cultura da noite e das normas pop mainstream em voga e assim dá ao álbum de estreia de La Roux um valor acrescentado, suplantando pelos vários motivos acima descritos (e por uma mais bem recheada mão cheia de canções) as estreias de Lady Ga Ga ou Little Boots.
La Roux
“La Roux”
Polydor / Universal
4 / 5
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Mais uma bela surpresa para um ano pop/rock nacional que, como em 2008, volta a ser caracterizado pela renovada afirmação de uma vontade em reencontar uma identidade que parte da exploração da língua portuguesa, não que tal implique um fechar nestas fronteiras dos sentidos de busca para as formas e referências musicais que acolhem as palavras das canções. Bem diferente do que nos mostrara no seu disco anterior, João Coração revela em Muda Que Muda uma escrita com mais corpo, mais voz e mais eviodente poder de comunicação. As palavras são claras, revelam um pensar, traduzem uma vivência, expressam um ponto de vista na primeira pessoa que sustenta a personalidade do canto. A voz parece mais confiante, acreditando talvez mais no que agora canta. E pela música cruzam-se caminhos vários, ora escutando heranças distantes de grandes escritores de canções (fala-se, parece que com sentido, de Serge Gainsbourg), mas também aceitando as boas lições de uns Talking Heads. Dentro do espaço de acção da editora Flor Caveira, o disco abre ainda novos horizontes no que parecia ser uma lógica de trabalho até aqui essencialmente centrada numa agenda lo-fi (e afluentes). Belos passos em frente, em todos os sentidos, está visto…
João Coração
“Muda que Muda”
Flor Caveira / Mbari
3 / 5
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Há um “v” a mais que chama a atenção para o facto deste não ser, exactamente, Wavves, o álbum de estreia dos Wavves… Este é, antes, Wavvves… E quando as preocupações com tamanha miniatura de acontecimento surgem numa banda que promove uma música onde o ruído (e o natural interesse pela exploração do acaso) marcam pontos, algo parece não fazer sentido… É o que acontece quando se passa tempo a mais a pensar em assunto a menos… Na verdade a base de trabalho que aqui se apresenta até é bem interessante. De uma genética noise, partilhando o que parece ser um gosto pela herança melodista e eléctrica do surf rock, surge o ponto de partida para um álbum que podemos juntar a alguns dos mais recomendáveis exemplos recentes de exploração da canção em terreno onde o ruido e a distorção nem precisam de tocar à campainha para entrar. A presença de ocasionais electrónicas enriquece as texturas e vários são os instantes em que tudo se conjuga em torno de belas canções. Porém, ao contrário do que nos últimos meses se ouviu em discos de uns No Age ou Titus Andronicus, aqui há por vezes mais forma que conteúdo. Não faltam boas canções, sem dúvida. Mas longe de fazer do todo desta estreia um foco de interesse tão promissor como os que as duas outras bandas atrás citadas geraram com as suas mais recentes edições. Ou seja, é preciso mais que um “v” a mais para fazer a diferença…
Wavves
“Wavvves”
Bella Union / Popstock
3 / 5
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Não há nada mais desmotivador que aquele ar de pompa que, logo depois, nos revela que não há realmente nada de especial dentro da casca. É quase isto o que se sente quando ouvimos o novo disco do projecto Bat For Lashes. O aperitivo, na forma de Daniel (uma interessante canção para melancolia pop e sinfonismo controlado), até prometera um bom sucessor para o muito promissor álbum de estreia editado há dois anos. Porém, vive mais de pompa que de real circunstância o segundo álbum que Natasha Khan edita como Bat For Lashes. Além de todo um edifício teórico que tenta justificar os sentidos das canções, a música parece mais preocupada em sugerir o grande, o eloquente, o impressionante, que em seguir realmente um qualquer caminho de composição pop (mais ou menos condimentada)… É no excesso de detalhes, de texturas, de camadas de acontecimentos, que as canções aqui se perdem… Ficam os ambientes, os efeitos, raras vezes parecendo haver uma ideia de estrutura que os suporte. É certo que o álbum não se limita a mostrar uma paleta de cosméticos, ao jeito de uma Enya… Mas na verdade não está muito longe de terrenos pop new age para impressionar quem gosta mais de olhar para as molduras que para os quadros.
Bat For Lashes
“Two Suns”
Echo / EMI Music Portugal
1 / 5
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Também esta semana:
Stephen Sondheim, Bill Frisell, Fiery Furnaces
Brevemente:
27 de Julho: Chris Garneau, Cass McCombs, A-ha
3 de Agosto: REM (reedição), Frankmuzik, Soft Machine (reedições), Luaka Bop, Julian Plenti, Wild Beasts
10 de Agosto: Stone Roses (Collectors Edition), Edward Sharpe & The Magnetic Zeros, Neil Young (reedições),
Agosto: Arctic Monkeys, Dolores O’Riordan,
Setembro: Duran Duran (reedições + DVD), Beatles (reedições), Apples In Stereo, Yo La Tengo, Zero 7, Sondre Lerche, Damon & Naomi, Beastie Boys, The Dodos