quarta-feira, julho 01, 2009

Crónicas da Tailândia (6/10)

Continuamos a apresentar a série de dez crónicas publicadas no DN no âmbito de uma viagem à Tailândia que antecipa as comemorações dos 500 anos do primeiro encontro entre portugueses e tailandeses. Este texto foi publicado no DN a 19 de Junho com o título "Chuva e paz na montanha".

Podemos subir pelos 304 degraus que nos levam ao topo do Doi Suthep ou, comprado um bilhete, pedir ajuda a um funicular. A 1601 metros de altitude, com vista sobre a cidade de Chiang Mai, a montanha acolhe desde o século XIV um dos mais belos templos da região. É o Wat Doi Suthep, ali construído, reza a lenda, depois do local ter sido “escolhido” por um elefante branco que, carregando relíquias do Buda, subiu a montanta e ali morreu, indicando assim ao rei o lugar onde guardá-las.
Em 1390 ali foi edificado um pagode, hoje o centro de um templo que entretanto se expandiu e é diariamente visitado quer por turistas quer por devotos. Em manhã de chuva, o chão estava alagado e assim, depois de deixados os sapatos (e meias) nos locais para o efeito colocados em redor da porta principal, muitos pés molhados subiam as escadas para entrar no Wat. Enquanto máquinas fotográficas olham estátuas e paredes onde dominam os tons dourados, há quem se sente (muitas vezes famílias inteiras) pelas salas do templo, para falar com os monges que ali estão. Em silêncio há quem contorne o pagode dourado. A paz, que deve acompanhar a procura da meditação e busca da sabedoria, claramente ali morava naquele momento.O budismo é praticado pela esmagadora maioria dos tailandeses. E a sua ética tolerante marcou o encontro deste povo com os portugueses. A troco de auxílio militar uma das primeiras concessões do rei siamês aos portugueses (logo no século XVI) foi a liberdade de culto. Ao contrário de uma posterior embaixada francesa, os portugueses nunca tentaram a conversão do Sião, não deixando contudo de transmitir a fé cristã aos seus descendentes. Desta relação pacífica são herdeiras muitas das comunidades cristãs espalhadas pelo país, que ainda hoje vivem em tranquila conviência entre a maioria budista.



Algumas imagens de pormenor do templo que encontramos perto do topo do Doi Suthep, em Chiang Mai.