O discurso de Barack Obama no Cairo (4 de Junho de 2009) foi tratado nas nossas televisões com a mesma técnica de soundbytes aplicada para abordar as eleições no Sporting. Eis uma opção que, de forma inequívoca, transporta uma visão do mundo e define um modelo de responsabilização jornalística. Por certo, tudo o que se noticiou era verdadeiro — mas a verdade é escassa...
Não devemos, por isso, ter medo de formular um juízo de assumida pompa e circunstância: as palavras do Presidente dos EUA, para além de constituirem um prodigioso exercício de ética e política, definem também uma data nas relações dos EUA e, genericamente, do chamado mundo ocidental com o vasto mundo do Islão. Aconteça o que acontecer nessas relações — nomeadamente nas formas de coexistência de israelitas e palestinianos —, haverá sempre um pré e um pós que encontram neste discurso um momento charneira.
>>> (...) Conheci o Islão em três continentes antes de vir à região onde foi revelado. Essa experiência justifica a minha convicção de que a colaboração entre a América e o Islão deve ser baseada naquilo que os Islão é, não naquilo que não é. E considero parte da minha responsabilidade enquanto Presidente dos Estados Unidos lutar contra os estereótipos negativos do Islão onde quer que eles apareçam.<<<
Vale a pena, por isso, ver e ouvir, escutar e reflectir sobre os 55 minutos que, de facto, durou o discurso de Obama. É isso mesmo que, através de um exemplo modelar de trabalho jornalístico, podemos encontrar no site do jornal The New York Times.