quarta-feira, junho 17, 2009

Marx para além do marxismo

"Uma coisa é certa: eu não sou marxista" — esta frase irónica de Karl Marx (1818-1883) adquiriu, com o peso da história, uma gravidade exemplar. De facto, mais do que nunca, para repensar Marx é preciso conhecê-lo para além do marxismo. Ou, para sermos historicamente exactos: antes do marxismo, isto é, antes dos crimes que, em nome de sucessivas cosméticas da sua filosofia, foram cometidos pelo comunismo soviético e chinês.
Não se trata, entenda-se, de expurgar Marx da história, mas exactamente o contrário. Que é como quem diz: revê-lo a partir do contexto da sua vida, numa época em que se cruzam, de modo necessariamente tenso e contraditório, os ideais herdados da Revolução Francesa, a industrialização da maior parte das nações europeias e a discussão do trabalho e dos sistemas de produção. Como escreve o professor de filosofia e ensaísta Jean Vioulac: "É preciso não acreditar que a obra de Marx é bem conhecida: pelo contrário, só depois da desagregação de todos os dogmatismos marxistas, é possível lê-la enquanto filosofia."
Este número especial, intitulado Marx e editado pela revista francesa Le Point, pode ser um auxiliar precioso para revisitar o homem e a obra, discutindo ideias, depurando conceitos, confrontando o que ele escreveu com o que sobre ele, ou "em nome dele", foi escrito — são 122 páginas de um genuíno trabalho de jornalismo de divulgação, profissionalmente exigente e ideologicamente descomplexado.