Subitamente, um thriller que reencontra o melhor da grande tradição política da década de 70 — este texto foi publicado no Diário de Notícias (18 de Junho), com o título 'A herança do cinema liberal'.
Algo esquecido nas memórias correntes do grande cinema clássico americano, Richard Brooks (1912-1992) é um nome que vale a pena evocar a propósito de State of Play, o filme de Kevin Macdonald lançado com o título nada feliz de Ligações Perigosas (o romance de Laclos e o filme de Stephen Frears mereciam outro respeito). Através de títulos como Deadline USA/A Última Ameaça (1952), com Humphrey Bogart, Brooks foi um dos que lançaram as bases de um cinema liberal (entenda-se: ligado à tradição liberal específica dos EUA) em que o trabalho dos jornalistas emerge como fundamental instrumento dramático e moral. Não por acaso, cineastas como Sydney Pollack ou Alan J. Pakula, especialistas do thriller político da década de 70, assumiram-se como herdeiros directos desse cinema.
State of Play desenvolve-se a partir de numa investigação conduzida pelo jornalista interpretado por Russell Crowe, com a ajuda de uma colega ainda pouco experiente, típica personagem deste género, assumida por Rachel MacAdams com invulgar contenção e charme. Para além do confronto com o labirinto político de Washington, o filme consegue jogar habilmente com dados da vida privada das personagens, em particular o envolvimento do jornalista com o senador investigado e a sua mulher (magnificamente interpretados por Ben Affleck e Robin Wright Penn).
Sem esquecer a competência de Kevin Macdonald, este é um cinema ancorado num sólido trabalho de argumento, envolvendo os nomes de Tony Gilroy (realizador de Michael Clayton) e Matthew Michael Carnahan (argumentista de Lions for Lambs/Peões em Jogo, de Robert Redford, porventura o mais brilhante filme político do cinema americano do século XXI). Prevalece, aqui, um gosto de contar histórias que, ao lidar com temas fortes da actualidade mediática, sabe ultrapassar as convenções e maniqueísmos dessa mesma actualidade.
Algo esquecido nas memórias correntes do grande cinema clássico americano, Richard Brooks (1912-1992) é um nome que vale a pena evocar a propósito de State of Play, o filme de Kevin Macdonald lançado com o título nada feliz de Ligações Perigosas (o romance de Laclos e o filme de Stephen Frears mereciam outro respeito). Através de títulos como Deadline USA/A Última Ameaça (1952), com Humphrey Bogart, Brooks foi um dos que lançaram as bases de um cinema liberal (entenda-se: ligado à tradição liberal específica dos EUA) em que o trabalho dos jornalistas emerge como fundamental instrumento dramático e moral. Não por acaso, cineastas como Sydney Pollack ou Alan J. Pakula, especialistas do thriller político da década de 70, assumiram-se como herdeiros directos desse cinema.
State of Play desenvolve-se a partir de numa investigação conduzida pelo jornalista interpretado por Russell Crowe, com a ajuda de uma colega ainda pouco experiente, típica personagem deste género, assumida por Rachel MacAdams com invulgar contenção e charme. Para além do confronto com o labirinto político de Washington, o filme consegue jogar habilmente com dados da vida privada das personagens, em particular o envolvimento do jornalista com o senador investigado e a sua mulher (magnificamente interpretados por Ben Affleck e Robin Wright Penn).
Sem esquecer a competência de Kevin Macdonald, este é um cinema ancorado num sólido trabalho de argumento, envolvendo os nomes de Tony Gilroy (realizador de Michael Clayton) e Matthew Michael Carnahan (argumentista de Lions for Lambs/Peões em Jogo, de Robert Redford, porventura o mais brilhante filme político do cinema americano do século XXI). Prevalece, aqui, um gosto de contar histórias que, ao lidar com temas fortes da actualidade mediática, sabe ultrapassar as convenções e maniqueísmos dessa mesma actualidade.