quinta-feira, junho 25, 2009

Crónicas da Tailândia (2/10)

Continuamos a apresentar a série de dez crónicas publicadas no DN no âmbito de uma viagem à Tailândia que antecipa as comemorações dos 500 anos do primeiro encontro entre portugueses e tailandeses. Este texto foi publicado no DN a 15 de Junho com o título "Queques em Santa Cruz".
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Um som familiar ouvia-se logo no cais. Era um coro, entoando uma melodia não muito distante das que conhecemos das cerimónias religiosas católicas em Portugal. Só a língua era diferente. A igreja de Santa Cruz, na margem direita do rio Chao Phraya (ao longo do qual cresceu a cidade) é peça central de uma pequena comunidade de Banguecoque na qual convivem cristãos (a maioria, cerca de 900) e crentes de outras confissões. Naquele final de tarde celebrava-se a segunda etapa do casamento entre Kowit, um tailandês, budista, de 39 anos e Pham Thi, vietnamita cristã, de 20. Bolos de mármore e banana, garrafas de refrigerantes e saquetas de seda com chá esperavam os convidados para quando terminasse a cerimónia. Os noivos tinham assinalado o ritual budista em Fevereiro e agora completavam o casamento na igreja. “Cristã” e não “chrisitan, como muitas vezes dizem”, comentava um no adro um jovem seminarista tailandês, também ele filho de pais com religiões diferentes (pai budista, mãe católica), sublinhando a herança portuguesa da palavra que define a sua fé.
Construída há 240 anos por um arquitecto italiano a mando de um padre português (sobre terrenos dados pelo rei tailandês quando a capital se deslocou de Ayutthaya para Banquecoque), a igreja de Santa Cruz é o núcleo deste bairro onde também mora uma escola e uma muito artesanal fábrica de “bolos portugueses”.
Em cena entra então Santi. Com ascendência portuguesa cinco gerações atrás é, aos 48 anos, um dos elementos do conselho que une esta comunidade. E fez questão de mostrar os bolos de que fala. Na verdade, descendentes dos queques, juntando-lhes passas de uva, o sabor açucarado das cavacas e a textura seca de um pão de ló… O irmão chegou a ir a Lisboa para comparar os seus bolos com os originais. “Estes são diferentes, mais suaves”, explica. E vinca a “originalidade” das passas de uva. No coração de Banquecoque, esperava tudo menos um lanche feito de queques…




A primeira imagem mostra Santi, com um queque na mão. A série mais abaixo apresenta a Igreja de Santa Cruz, o casamento que nela decorria naquela tarde e a escola que se encontra ali mesmo ao lado.