O conceito de blockbuster, por certo ligado a espantosos momentos da história do moderno cinema americano — será preciso recordar que tudo começou em 1975, com Tubarão, de Steven Spielberg? — está a gerar a sua própria rotina académica, pesada, de inglória monotonia. Exemplo: o novo X Men Origens: Wolverine, de Gavin Hood — este texto foi publicado no Diário de Notícias (30 de Abril), com o título 'E se isto já não fosse cinema?'.
Os chamados blockbusters de Verão, de que Wolverine é este ano o primeiro sintoma, sempre suscitaram um preconceito de vocação re-pressiva. Segundo tal preconceito, os filmes mais “espectaculares” não passam de inocentes objectos de mercado (como se a inocência alguma vez tivesse sido um conceito operante para compreender o funcionamento de qualquer mercado) que, como tal, os críticos nem sequer deveriam comentar (como se a crítica não fosse, por definição, uma prática abrangente que, mal ou bem, tenta pensar o comercial e o cultural, o temático e o simbólico).
Terá chegado o momento de fazer alguma ironia e reconhecer que tal discurso pode ter alguma justificação. De facto, objectos como Wolverine talvez já não sejam filmes, talvez pertençam a um universo que já não pode ser definido pela respeitável palavra cinema. Aquilo que aqui triunfa já nem sequer decorre de uma qualquer relação com a banda desenhada (que, como é óbvio, já serviu de ponto de partida a muitos filmes notáveis). Estamos apenas perante o triunfo de uma mentalidade mercantil para a qual o cinema se reduz a uma plataforma determinista de consumo. Porquê determinista? Porque se virmos os trailers do filme ficamos a conhecer os seus principais momentos de “espectáculo”. Ou seja: já nem se convoca o espectador em nome da surpresa que o cinema pode envolver. Trata-se apenas de ir confirmar o que já se sabe. Há um nome feio para isto: consumismo.
Os chamados blockbusters de Verão, de que Wolverine é este ano o primeiro sintoma, sempre suscitaram um preconceito de vocação re-pressiva. Segundo tal preconceito, os filmes mais “espectaculares” não passam de inocentes objectos de mercado (como se a inocência alguma vez tivesse sido um conceito operante para compreender o funcionamento de qualquer mercado) que, como tal, os críticos nem sequer deveriam comentar (como se a crítica não fosse, por definição, uma prática abrangente que, mal ou bem, tenta pensar o comercial e o cultural, o temático e o simbólico).
Terá chegado o momento de fazer alguma ironia e reconhecer que tal discurso pode ter alguma justificação. De facto, objectos como Wolverine talvez já não sejam filmes, talvez pertençam a um universo que já não pode ser definido pela respeitável palavra cinema. Aquilo que aqui triunfa já nem sequer decorre de uma qualquer relação com a banda desenhada (que, como é óbvio, já serviu de ponto de partida a muitos filmes notáveis). Estamos apenas perante o triunfo de uma mentalidade mercantil para a qual o cinema se reduz a uma plataforma determinista de consumo. Porquê determinista? Porque se virmos os trailers do filme ficamos a conhecer os seus principais momentos de “espectáculo”. Ou seja: já nem se convoca o espectador em nome da surpresa que o cinema pode envolver. Trata-se apenas de ir confirmar o que já se sabe. Há um nome feio para isto: consumismo.
PS - Uma mentalidade hipócrita — com algumas raízes no espaço jor-nalístico — insiste em propalar uma ideia segundo a qual a exigência de pensar os efeitos narrativos, simbólicos e econónimos deste tipo de produtos decorre de uma atitude pontual de alguma crítica made in Portugal. Quanto mais não seja para celebrarmos o desejo de pensar sem preconceitos (e não precisamos de estar de acordo sobre os filmes para o fazer), vale a pena conhecer o texto sobre Wolverine escrito por John Anderson em The Washington Post (1 de Maio). Citação: "Quando os humanos começam a parecer intrusos na pirotecnia das imagens de computador, então os filmes tornaram-se qualquer coisa que já não é bem-vinda, qualquer coisa que já não é cinema" — está no site do jornal.