quarta-feira, maio 06, 2009

A herança de Gordon Gekko

A crise global? O triunfo da avareza? A irresponsabilidade de alguns banqueiros? Por vezes, a raiva impele-nos a tentar explicar tudo da maneira mais esquemática. A saber: a culpa foi de Gordon Gekko.
Não é isso que o historiador e analista político Timothy Garton Ash diz, mas não deixa de nos alertar para estarmos atentos aos sinais premonitórios que a ficção pode conter. Gash tenta compreender a gestação — e as possíveis saídas — da "maior crise do capitalismo em 70 anos", citando dois exemplos do modo como, "não pela primeira vez", romancistas e cineastas estavam em avanço sobre o seu tempo. Um desses sinais avant la lettre é, justamente, a personagem de Gekko, o terrível gestor financeiro interpretado por Michael Douglas no filme Wall Street (1987), de Oliver Stone. O outro é a obra romanesca de Tom Wolfe — e pensamos, necessariamente, em A Fogueira das Vaidades, livro também lançado em 1987 (adaptado ao cinema, por Brian De Palma, em 1990). Para Ash, trata-se de resolver aquilo que chama o "paradoxo do capitalismo", ou seja, essa dinâmica social e simbólica que, no trabalho, nos impõe "disciplina" e, em tudo o resto, celebra o "hedonismo" e a "auto-indulgência". É um belo texto, ágil e estimulante, que pode ser lido nas páginas do jornal The Guardian.

>>> Site oficial de Timothy Garton Ash.

PS
- Oliver Stone está a trabalhar numa continuação de Wall Street, com Shia LaBeouf e Michael Douglas a retomar a personagem de Gordon Gekko — previsto para 2011, o filme intitular-se-á
Money Never Sleeps.