sábado, maio 16, 2009

Cannes 2009, 16 de Maio

Como definir a singularidade de um corpo? Pela pele e pelo desejo. Pelo que nele frui e pelo que nele sofre. Pelo poder que nele se exprime ou aceita. Un Prophète [foto] é um magnífico filme sobre tudo isso: uma história de prisão que observa, metodicamente, a lenta e inexorável transferência de poderes no interior do crime organizado.
Um ano depois da Palma de Ouro atribuída a A Turma, de Laurent Cantet, Un Prophète foi o primeiro título francês a marcar presença na competição (num ano em que as expectativas caseiras voltam a ser muito altas, incluindo através da revelação do mais recente filme de Alain Resnais). Realizado pelo cineasta de De Tanto Bater o Meu Coração Parou, Un Prophète é um caso exemplar de revisitação das regras do policial que, todavia, resiste a ficar bloqueado na mera nostalgia do "género". Audiard continua a ser um retratista subtil de algumas formas de violência muito cruas, acabando por propor uma espécie de comédia humana sobre as relações de poder, os sujeitos e os corpos que as protagonizam.