quinta-feira, maio 14, 2009

Cannes 2009, 14 de Maio

De que nos fala esta imagem de Spring Fever, do cineasta chinês Lou Ye? Do modo como o nosso corpo é, de uma só vez, um instrumento com que escrevemos a nossa história e uma paisagem na qual essa história se escreve e reescreve.
Contando uma traição amorosa (um homem que é infiel com a mulher, mantendo uma relação com outro homem), Spring Fever é um filme de temática especificamente queer, quer dizer de problematização das fronteiras tradicionais da(s) sexualidade(s), e também um dos mais interessantes dos primeiros dias de Cannes. Curiosamente, o título seguinte a surgir na competição, Fish Tank, de Andrea Arnold, é outro belo exemplo de abordagem dos enigmas das pulsões sexuais, neste caso num estilo que remete, muito directamente, para a herança viva do realismo inglês.
Nem realista nem fantástico, mas muito das duas coisas, do seu cruzamento e da sua reinvenção, é o novo filme de Francis Ford Coppola: Tetro, uma coprodução entre Argentina, Espanha e Itália que serviu de abertura à Quinzena dos Realizadores. Retomando as suas obsessões pelos laços familiares (através do reencontro de dois irmãos que, até agora, tudo separou), Coppola faz um brilhante exercício de cinema, com o sabor dos pequenos filmes independentes que povoam a sua filmografia, a começar pelo inesquecível Rumble Fish (1983).