Jean Cocteau dizia que o cinema "filma a morte no trabalho". O que era também uma maneira de dizer que filma para além da morte, contra o seu silêncio sem recurso. Vale a pena lembrar Cocteau a partir daquela que é a primeira imagem emblemática de Cannes 2009: Heath Ledger (1979-2008) em The Imaginarium of Doctor Parnassus, de Terry Gilliam, o filme que o actor não concluiu, mas cuja existência para além da sua morte -- e através da sua presença ambígua -- é um facto que este festival vai revelar.
The Imaginarium of Doctor Parnassus surgirá na mesma zona da programação em que também estão incluidos Up, de Peter Docter, a animação da Pixar que servirá de abertura oficial, Cendres et Saing, de Fanny Ardant, e L'Épine dans le Coeurs, de Michel Gondry. Ou seja: nos espaços extra-competição que a selecção oficial propõe. Se relembrarmos que a corrida para a Palma de Ouro envolve, este ano, uma multifacetada galeria de autores (Resnais, Tarantino, Almodóvar, Lars von Trier, Ang Lee, etc.), podemos acrescentar que a 62ª edição do Festival de Cannes não se poupou a esforços para reunir o tout Paris... É uma maneira de dizer, mas também soa bem face ao azul sereno do Mediterrâneo.