Hoje em dia, as rotinas da televisão portuguesa parecem desembocar, ine-vitavelmente, no futebol. Daí a pergunta: que preço estamos a pagar pelo catastrofismo futebolístico com que, todos os dias, nos massacram? — este texto foi publicado no Diário de Notícias (10 de Abril), com o título 'O mundo vai acabar?'.
1. É muito cedo para tirar grandes conclusões sobre Jimmy Fallon como herdeiro de Conan O’Brien. Seja como for, os primeiros exemplos do seu Late Night, na NBC (entre nós na SIC Radical), deixam a impressão incómoda de alguém que está a tentar “imitar” o seu antecessor. Claro que a herança é pesada. Mas por isso mesmo, porque não parece possível repetir a personagem séria & burlesca que Conan inventou, espera-se o que sempre se espera do apresentador de um talk show. Que é como quem diz: que proponha um estilo próprio e, no limite, uma visão do mundo. Segue nos próximos capítulos.
2. Subitamente, uma paisagem de muitas e calorosas memórias: num documentário sobre Paul Newman (RTP2), reencontramos as marcas lendárias de um dos gigantes de Hollywood, desde os tempos heróicos do Actors Studio até ao Oscar ganho em A Cor do Dinheiro (1986), dos anos de formação no teatro às admiráveis actividades de filantropo. E, no entanto, sentimos inevitáveis resistências. Em primeiro lugar, porque alguns extractos de filmes são de péssima qualidade (por exemplo, as imagens de Cortina Rasgada, de Hitchcock), afinal de contas contrariando o sentido de recuperação e restauro do património cinematográfico favorecido pela idade do DVD. Depois, porque a televisão tende a retratar os seus biografados como marionetas que não têm direito às arbitrariedades de qualquer existência individual. Parece que tudo aconteceu para cumprir um “destino” inexorável. Sabemos que não é assim.
3. Qual é a primeira e dramática questão do jornalismo televisivo? Provavelmente, o peso avassalador que adquiriu a abordagem do futebol. Na prática, todas as semanas parece que o mundo vai acabar. Porquê? Porque há um penalty discutível, algumas palavras infelizes de algum dirigente ou uma mera insinuação moral a pairar... Tudo isso se instala e cresce como um cancro mediático que contamina tudo e todos, fazendo da televisão um obsceno tribunal popular. Questão dramática, insisto. Mas quase ninguém a quer enfrentar. E o jornalismo vai morrendo.
1. É muito cedo para tirar grandes conclusões sobre Jimmy Fallon como herdeiro de Conan O’Brien. Seja como for, os primeiros exemplos do seu Late Night, na NBC (entre nós na SIC Radical), deixam a impressão incómoda de alguém que está a tentar “imitar” o seu antecessor. Claro que a herança é pesada. Mas por isso mesmo, porque não parece possível repetir a personagem séria & burlesca que Conan inventou, espera-se o que sempre se espera do apresentador de um talk show. Que é como quem diz: que proponha um estilo próprio e, no limite, uma visão do mundo. Segue nos próximos capítulos.
2. Subitamente, uma paisagem de muitas e calorosas memórias: num documentário sobre Paul Newman (RTP2), reencontramos as marcas lendárias de um dos gigantes de Hollywood, desde os tempos heróicos do Actors Studio até ao Oscar ganho em A Cor do Dinheiro (1986), dos anos de formação no teatro às admiráveis actividades de filantropo. E, no entanto, sentimos inevitáveis resistências. Em primeiro lugar, porque alguns extractos de filmes são de péssima qualidade (por exemplo, as imagens de Cortina Rasgada, de Hitchcock), afinal de contas contrariando o sentido de recuperação e restauro do património cinematográfico favorecido pela idade do DVD. Depois, porque a televisão tende a retratar os seus biografados como marionetas que não têm direito às arbitrariedades de qualquer existência individual. Parece que tudo aconteceu para cumprir um “destino” inexorável. Sabemos que não é assim.
3. Qual é a primeira e dramática questão do jornalismo televisivo? Provavelmente, o peso avassalador que adquiriu a abordagem do futebol. Na prática, todas as semanas parece que o mundo vai acabar. Porquê? Porque há um penalty discutível, algumas palavras infelizes de algum dirigente ou uma mera insinuação moral a pairar... Tudo isso se instala e cresce como um cancro mediático que contamina tudo e todos, fazendo da televisão um obsceno tribunal popular. Questão dramática, insisto. Mas quase ninguém a quer enfrentar. E o jornalismo vai morrendo.