Que significa lidar com os meios de comunicação, em particular com a pressão determinista da televisão? Como é que um seleccionador nacional de futebol pode enfrentar essa pressão? — este texto foi publicado no Diário de Notícias (3 de Abril), com o título 'A saga de Queiroz'.
A exposição mediática e, em particular, o protagonismo televisivo é uma estrada de dois sentidos. É verdade que as televisões exploram (em sentido literal ou simbólico) as imagens dos que, por uma razão ou por outra, são celebridades. Mas não é menos verdade que cada uma dessas celebridades tem também a sua parte de respon-sabilidade nas significações de tais imagens e nos discursos que as podem sustentar.
Carlos Queiroz, por exemplo. Não é necessário ser um fã de futebol para perceber um dado muito simples: com o mais recente empate com a Suécia, a selecção portuguesa diminuiu drasticamente as possibilidades de estar presente no Mundial de Futebol de 2010, na África do Sul. Tudo apela a um mínimo de bom senso: as exibições descoloridas, a dramática incapacidade de marcar golos, os nove pontos perdidos em quinze possíveis e o já considerável atraso em relação aos mais directos rivais, tudo justifica o máximo de sobriedade e pragmatismo. Mas não, Carlos Queiroz insiste em manter a visão épica de quem acredita que a equipa portuguesa irá protagonizar o milagre de cinco vitórias nos cinco jogos que faltam, incluindo dois com a Hungria (casa e fora) e um com a Dinamarca (fora).
Claro que Queiroz, cujas qualidades profis-sionais não estão em causa, não pode ser unilateralmente responsabilizado pelas ilu-sões que, há vários anos, vão “vendendo” a ideia de que Portugal, desaire após desaire, possui a melhor selecção de futebol do mundo... A ideologia televisiva tem traba-lhado muito nesse sentido e, há que reconhecê-lo, com eficácia junto da maioria dos espectadores. Seja como for, há qualquer coisa de inapelavelmente naïf no modo como o seleccionador nacional se sujeita a assumir o papel de derradeiro herói de uma saga em que já muito poucos acreditam. Na prática, Queiroz está a criar todas as condições para, perante a mais que provável eliminação de Portugal na fase de grupos do Mundial, emergir como o objecto sacrificial de um aparato populista em que uma vítima vale tanto (ou mais) que um herói. Queiroz é mais um espectador distraído que não reparou que a lógica do Big Brother se tornou, de facto, a linguagem televisiva dominante.
A exposição mediática e, em particular, o protagonismo televisivo é uma estrada de dois sentidos. É verdade que as televisões exploram (em sentido literal ou simbólico) as imagens dos que, por uma razão ou por outra, são celebridades. Mas não é menos verdade que cada uma dessas celebridades tem também a sua parte de respon-sabilidade nas significações de tais imagens e nos discursos que as podem sustentar.
Carlos Queiroz, por exemplo. Não é necessário ser um fã de futebol para perceber um dado muito simples: com o mais recente empate com a Suécia, a selecção portuguesa diminuiu drasticamente as possibilidades de estar presente no Mundial de Futebol de 2010, na África do Sul. Tudo apela a um mínimo de bom senso: as exibições descoloridas, a dramática incapacidade de marcar golos, os nove pontos perdidos em quinze possíveis e o já considerável atraso em relação aos mais directos rivais, tudo justifica o máximo de sobriedade e pragmatismo. Mas não, Carlos Queiroz insiste em manter a visão épica de quem acredita que a equipa portuguesa irá protagonizar o milagre de cinco vitórias nos cinco jogos que faltam, incluindo dois com a Hungria (casa e fora) e um com a Dinamarca (fora).
Claro que Queiroz, cujas qualidades profis-sionais não estão em causa, não pode ser unilateralmente responsabilizado pelas ilu-sões que, há vários anos, vão “vendendo” a ideia de que Portugal, desaire após desaire, possui a melhor selecção de futebol do mundo... A ideologia televisiva tem traba-lhado muito nesse sentido e, há que reconhecê-lo, com eficácia junto da maioria dos espectadores. Seja como for, há qualquer coisa de inapelavelmente naïf no modo como o seleccionador nacional se sujeita a assumir o papel de derradeiro herói de uma saga em que já muito poucos acreditam. Na prática, Queiroz está a criar todas as condições para, perante a mais que provável eliminação de Portugal na fase de grupos do Mundial, emergir como o objecto sacrificial de um aparato populista em que uma vítima vale tanto (ou mais) que um herói. Queiroz é mais um espectador distraído que não reparou que a lógica do Big Brother se tornou, de facto, a linguagem televisiva dominante.