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Na segunda-feira, no programa Prós e Contras (RTP1), discutiu-se a Europa e as eleições para o Parlamento Europeu. Nas suas primeiras intervenções, Ilda Figueiredo e Nuno Melo apresentaram imagens para sustentar o seu discurso: respectivamente, um gráfico sobre o endividamento das famílias e uma manchete de um jornal com o ministro da Economia anunciando “o fim da crise” [fotos em cima]. Foram momentos com algo de incomodamente patético. Em primeiro lugar, porque o gráfico, apesar de muito colorido, era virtualmente ilegível; depois, porque o fragmento do jornal surgia numa fotocópia ampliada de péssima qualidade.
São pormenores, eu sei. Mas peço que não me façam dizer aquilo que não estou a dizer. Desde logo, não estou a pôr em causa a eventual pertinência dos dados evocados (os índices económicos, as declarações dos governantes) para os assuntos em debate. Além do mais, não pretendo sugerir, nem de perto nem de longe, que este método “visual” de argumentação seja exclusivo das forças políticas que Ilda Figueiredo e Nuno Melo representam.
Aliás, o meu ponto de vista é abrangente: ambos surgiram como sintoma cristalino do modo como, correntemente, as nossas entidades políticas entendem as imagens e, em particular, o seu funcionamento no interior do fluxo televisivo. Para essas entidades, uma imagem é uma automática e irrefutável prova de verdade: apresenta-se, descreve-se como “coisa” que se basta a si própria e... passa-se à frente. A ideologia dos apanhados funciona exactamente a partir da mesma crença na imanência inquestionável das imagens.
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