quarta-feira, março 18, 2009

Para ver em Londres (6)

Inaugurada no passado dia 25 de Fevereiro na National Gallery (Londres), ali devendo permanecer até 7 de Junho, Picasso: Challenging The Past propõe uma forma diferente de reencontrar uma colecção expressiva de obras do pintor, entre elas revelando-se marcas da relação do artista com a memória, procurando depois estabelecer relações com obras da colecção permanente do museu.

Pelas seis salas que acolhem a exposição, no piso -2 da Sainsbury Wing, reencontramos obras nas quais se espelham relações de diálogo, debate ou reflexão entre Pablo Picasso (1881-1973) e pintores do passado. Conhecedor das diversas tradições na pintura europeia, Picasso encontrou em mestres como El Greco, Velázquez, Goya, Rembrandt, Delacroix, Manet ou Cézanne algumas das suas grandes referências. Entre as 6o obras de Picasso que a exposição agora reúne na National Gallery, encontramos sugestões que traduzem as formas como o pintor partiu de algumas das grandes linhas temáticas da pintura europeia, analisando-as, assimilando-as, reinterpretando-as na sua linguagem. Na imagem acima, uma reflexão de 1961 de Picasso sobre o clássico Le Dejeuner sur l’Herbe, de Manet.

Organizada tematicamente, a exposição começa por nos mostrar, na primeira sala, como, em etapas distintas da sua vida, Picasso encarou o auto-retrato. Na segunda, "Modelos e Musas: Nus", o corpo feminino é protagonista, entre as visões mais próximas do vocabulário cubista do início do século e as figuras mais voluptuosas que pintou nos anos 20. As Salas 3 e 4 recolhem retratos, entre representações de figuras históricas e musas que inspiraram o pintor. Pela Sala 5 vemos reinvenções da tradição da "natureza morta". A fechar, a Sala 6 (arrumando as obras sob a designação "Variações") mostra exemplos concretos de casos de interpretação de obras concretas de pintores de outros tempos (Delacroix, Manet, David ou Velázquez, de quem aqui se vê uma “versão” do seu Las Niñas), segundo Picasso. Entre todos os exemplos correm sugestões sobre o modo como um dos maiores visionários do século XX tomou a memória como ponto de partida.
PS. Versão editada de um texto publicado no DN a 8 de Março