O Canto dos Pássaros, do espanhol Albert Serra, é por certo um dos filmes mais estranhos, sedutores e inclassificáveis que ultimamente chegaram às salas portuguesas — e saúda-se o simples facto de o podermos ver nas salas, contrariando a "condenação" ao directo-para-DVD a que são sujeitos tantos títulos, não apenas interessantes, mas com potencialidades comerciais.
Albert Serra prossegue, aqui, o cinema minimalista que já propusera em Honra de Cavalaria (2006). Nesse caso, tratava-se de transfigurar a lenda de Dom Quixote e Sancho Pança num espécie de ritual à procura do seu próprio sentido nas formas envolventes da natureza — a luz e o som promovidos à condição de acontecimentos. Agora, acontece algo de semelhante para contar a história da caminhada dos Três Reis Magos a viajar à procura do Messias.
Albert Serra prossegue, aqui, o cinema minimalista que já propusera em Honra de Cavalaria (2006). Nesse caso, tratava-se de transfigurar a lenda de Dom Quixote e Sancho Pança num espécie de ritual à procura do seu próprio sentido nas formas envolventes da natureza — a luz e o som promovidos à condição de acontecimentos. Agora, acontece algo de semelhante para contar a história da caminhada dos Três Reis Magos a viajar à procura do Messias.
Mas será esta ainda uma forma de contar uma história? A resposta deverá ser afirmativa, sobretudo se não esquecermos que as narrativas não têm que obedecer à "objectividade" pueril de telenovelas e produtos afins. Trata-se, afinal, de propor uma visão do mundo em que o sagrado é sempre uma hipótese — daí que este seja um cinema a propósito do qual podemos falar de uma dimensão poética, isto é, de uma genuína vocação libertadora do trabalho formal.