
Só há poucos dias chegou ao mercado português o número duplo da revista norte americana Entertainment Weekly em que se fazia o inventário de nomeados e favoritos para os Óscares (edição com data de 30 Jan./6 Fev.). Vale a pena reflectir um pouco sobre os seus destaques, quanto mais não seja porque, dedicando 39 páginas (num total de 106) aos prémios da Academia de Hollywood, a EW coloca na capa uma fotografia de... Barack Obama!
E, podem crer, não se trata de abordar os destinos do planeta a partir das polémicas em torno dos vestidos de Michelle Obama (que, em todo o caso, são metodicamente inventariados) nem para reduzir a eleição do Presidente a uma colecção de eventos mais ou menos pitorescos (a imprensa dita dos “famosos” pode muito bem recusar as vulgaridades que fazem lei noutros contextos). Nada disso. Uma revista popular não tem que ser jornalisticamente medíocre nem está obrigada a tratar os seus leitores como se fossem cidadãos mentalmente imberbes. Como refere o título da capa, acontece que “Barack Obama está a mudar a cultura pop para sempre.” Ou ainda, e de acordo com as páginas 22/23 (em cima reproduzidas), sendo Obama mais popular que Beyoncé ou o par Angelina Jolie/Brad Pitt, este é o “Presidente estrela rock”.

Estamos a falar de um líder político que gosta dos Fugees e tem Bob Dylan no seu iPod (“Sim, o líder do mundo livre tem um iPod”), um Presidente que, nas linhas austeras dos seus fatos e óculos escuros, por vezes se apresentou menos como um “candidato presidencial” e mais como uma personagem de “um anúncio Hugo Boss”. Mas não estamos a falar de um mero ícone abstracto (essa ilusão que os políticos medíocres, na ausência de ideias minimamente consistentes, tentam vender com o apoio dos mais básicos, e mais bem pagos, “gestores de imagem”). O impacto de Obama é indissociável de uma arte discursiva que começa na justeza das palavras e se espraia pelos mais diversos registos de informação/comunicação, incluindo, claro, a Internet.
Repare-se, por exemplo, como desde o dia 20 de Janeiro, inclusive, o site da Casa Branca passou a integrar muitos conceitos visuais e gráficos gerados pelo site oficial de Obama. Velha e preciosa lição política: a forma é o primeiro dos conteúdos.