No imaginário da cultura popular (americana e global), o 44º Presidente dos EUA é um novo elemento a ter em conta — este texto foi publicado no Diário de Notícias (8 de Março), com o título 'No labirinto da cultura pop'.
Só há poucos dias chegou ao mercado português o número duplo da revista norte americana Entertainment Weekly em que se fazia o inventário de nomeados e favoritos para os Óscares (edição com data de 30 Jan./6 Fev.). Vale a pena reflectir um pouco sobre os seus destaques, quanto mais não seja porque, dedicando 39 páginas (num total de 106) aos prémios da Academia de Hollywood, a EW coloca na capa uma fotografia de... Barack Obama!
E, podem crer, não se trata de abordar os destinos do planeta a partir das polémicas em torno dos vestidos de Michelle Obama (que, em todo o caso, são metodicamente inventariados) nem para reduzir a eleição do Presidente a uma colecção de eventos mais ou menos pitorescos (a imprensa dita dos “famosos” pode muito bem recusar as vulgaridades que fazem lei noutros contextos). Nada disso. Uma revista popular não tem que ser jornalisticamente medíocre nem está obrigada a tratar os seus leitores como se fossem cidadãos mentalmente imberbes. Como refere o título da capa, acontece que “Barack Obama está a mudar a cultura pop para sempre.” Ou ainda, e de acordo com as páginas 22/23 (em cima reproduzidas), sendo Obama mais popular que Beyoncé ou o par Angelina Jolie/Brad Pitt, este é o “Presidente estrela rock”.
Benjamin Svetkey, o comentador da EW, lembra que há alguns factores óbvios que podem ajudar a explicar o impacto de Obama, tanto nos EUA, como a nível global (e não será preciso repetir como o efeito de globalização se tornou determinante na cena política dos nossos dias). Recorda, por exemplo, os dons de oratória e, sem qualquer ironia, o apoio de Oprah Winfrey. O certo é que Obama tem conseguido uma presença mediática e um impacto simbólico que, por assim dizer, pertenciam a figuras do show business como Tom Cruise, Tom Hanks e Will Smith (Svetkey refere mesmo a discreta carreira comercial de Sete Vidas, o mais recente filme de Smith estreado no Natal). Razões para isso? Uma vital e, como agora se diz, estruturante: Obama mantém uma relação viva e, sobretudo, genuína com o labirinto da cultura pop. Afinal de contas, entre as dezenas de convidados da sua tomada de posse, a 20 de Janeiro, estavam Steven Spielberg, Bruce Springsteen, Jay-Z, Bono e Denzel Washington.
Estamos a falar de um líder político que gosta dos Fugees e tem Bob Dylan no seu iPod (“Sim, o líder do mundo livre tem um iPod”), um Presidente que, nas linhas austeras dos seus fatos e óculos escuros, por vezes se apresentou menos como um “candidato presidencial” e mais como uma personagem de “um anúncio Hugo Boss”. Mas não estamos a falar de um mero ícone abstracto (essa ilusão que os políticos medíocres, na ausência de ideias minimamente consistentes, tentam vender com o apoio dos mais básicos, e mais bem pagos, “gestores de imagem”). O impacto de Obama é indissociável de uma arte discursiva que começa na justeza das palavras e se espraia pelos mais diversos registos de informação/comunicação, incluindo, claro, a Internet.
Repare-se, por exemplo, como desde o dia 20 de Janeiro, inclusive, o site da Casa Branca passou a integrar muitos conceitos visuais e gráficos gerados pelo site oficial de Obama. Velha e preciosa lição política: a forma é o primeiro dos conteúdos.
Só há poucos dias chegou ao mercado português o número duplo da revista norte americana Entertainment Weekly em que se fazia o inventário de nomeados e favoritos para os Óscares (edição com data de 30 Jan./6 Fev.). Vale a pena reflectir um pouco sobre os seus destaques, quanto mais não seja porque, dedicando 39 páginas (num total de 106) aos prémios da Academia de Hollywood, a EW coloca na capa uma fotografia de... Barack Obama!
E, podem crer, não se trata de abordar os destinos do planeta a partir das polémicas em torno dos vestidos de Michelle Obama (que, em todo o caso, são metodicamente inventariados) nem para reduzir a eleição do Presidente a uma colecção de eventos mais ou menos pitorescos (a imprensa dita dos “famosos” pode muito bem recusar as vulgaridades que fazem lei noutros contextos). Nada disso. Uma revista popular não tem que ser jornalisticamente medíocre nem está obrigada a tratar os seus leitores como se fossem cidadãos mentalmente imberbes. Como refere o título da capa, acontece que “Barack Obama está a mudar a cultura pop para sempre.” Ou ainda, e de acordo com as páginas 22/23 (em cima reproduzidas), sendo Obama mais popular que Beyoncé ou o par Angelina Jolie/Brad Pitt, este é o “Presidente estrela rock”.
Benjamin Svetkey, o comentador da EW, lembra que há alguns factores óbvios que podem ajudar a explicar o impacto de Obama, tanto nos EUA, como a nível global (e não será preciso repetir como o efeito de globalização se tornou determinante na cena política dos nossos dias). Recorda, por exemplo, os dons de oratória e, sem qualquer ironia, o apoio de Oprah Winfrey. O certo é que Obama tem conseguido uma presença mediática e um impacto simbólico que, por assim dizer, pertenciam a figuras do show business como Tom Cruise, Tom Hanks e Will Smith (Svetkey refere mesmo a discreta carreira comercial de Sete Vidas, o mais recente filme de Smith estreado no Natal). Razões para isso? Uma vital e, como agora se diz, estruturante: Obama mantém uma relação viva e, sobretudo, genuína com o labirinto da cultura pop. Afinal de contas, entre as dezenas de convidados da sua tomada de posse, a 20 de Janeiro, estavam Steven Spielberg, Bruce Springsteen, Jay-Z, Bono e Denzel Washington.
Estamos a falar de um líder político que gosta dos Fugees e tem Bob Dylan no seu iPod (“Sim, o líder do mundo livre tem um iPod”), um Presidente que, nas linhas austeras dos seus fatos e óculos escuros, por vezes se apresentou menos como um “candidato presidencial” e mais como uma personagem de “um anúncio Hugo Boss”. Mas não estamos a falar de um mero ícone abstracto (essa ilusão que os políticos medíocres, na ausência de ideias minimamente consistentes, tentam vender com o apoio dos mais básicos, e mais bem pagos, “gestores de imagem”). O impacto de Obama é indissociável de uma arte discursiva que começa na justeza das palavras e se espraia pelos mais diversos registos de informação/comunicação, incluindo, claro, a Internet.
Repare-se, por exemplo, como desde o dia 20 de Janeiro, inclusive, o site da Casa Branca passou a integrar muitos conceitos visuais e gráficos gerados pelo site oficial de Obama. Velha e preciosa lição política: a forma é o primeiro dos conteúdos.