Muitas vezes, no espaço televisivo, o futebol deixou de ser um jogo para ser transformado numa tragédia "nacional" ou "clubista" — este texto foi publicado no Diário de Notícias (20 de Março), com o título 'Futebol e tragédia'.
Bem sei que o meu ponto de vista é minoritário, mas devo dizer que não me entusiasma o valor internacional do actual futebol português. Entre os clubes, só o F. C. Porto me parece possuir genuína dimensão europeia. Quanto à selecção nacional, as vitórias “esmagadoras” sobre Malta ou as Ilhas Faroë não me impedem de considerar que, desde o consulado de Luís Filipe Scolari, a qualidade da equipa se tem degradado de forma regular, por vezes chocante (sobretudo tendo em conta as qualidades específicas de muitos jogadores). É uma visão minoritária, insisto, que exprimo sem dramatismos. Há coisas mais tristes e, por certo, mais graves no nosso país. Se a evoco, é apenas para reflectir um pouco sobre o que, televisivamente, se passou na sequência da derrota do Sporting (7-1) com o Bayern de Munique.
No espaço mediático, predomina uma visão contrária que considera o futebol português como um dos melhores do mundo. Não tenho problemas em aceitar essa diferença de percepção. O que me confunde é o tom dominante de um jornalismo que, literalmente, transforma uma desilusão desportiva numa tragédia colectiva. Palavras como “hecatombe”, “vergonha” e “pesadelo” serviram para noticiar (?) e comentar (???) aquilo que não passava de uma derrota amarga (a meu ver, tendo em conta o potencial de ambas as equipas, naturalíssima). Esperei até que a vitória por 4-0 do Liverpool sobre o Real Madrid (esse sim, um confronto de duas equipas com valores semelhantes) fosse descrita como uma guerra nuclear... Mas não.
Nos dias que antecederam o Bayern-Sporting já se tinha assistido ao primeiro acto desta agitação populista, com a promulgação da necessidade de o Sporting, depois da derrota da primeira mão (5-0), resgatar a sua “honra” e “dignidade”. Na prática, assistimos a isto: num país tão ferido por tantos problemas decorrentes da crise internacional, é o futebol que emerge como uma espécie de tragédia de recurso, transmitindo-se para o povo conceitos gratuitos do que seja um confronto desportivo ou do que possa ser a identidade nacional. Eu escrevi “povo”? É verdade. A palavra também se tornou minoritária, mas parece-me que não a devemos perder.
Bem sei que o meu ponto de vista é minoritário, mas devo dizer que não me entusiasma o valor internacional do actual futebol português. Entre os clubes, só o F. C. Porto me parece possuir genuína dimensão europeia. Quanto à selecção nacional, as vitórias “esmagadoras” sobre Malta ou as Ilhas Faroë não me impedem de considerar que, desde o consulado de Luís Filipe Scolari, a qualidade da equipa se tem degradado de forma regular, por vezes chocante (sobretudo tendo em conta as qualidades específicas de muitos jogadores). É uma visão minoritária, insisto, que exprimo sem dramatismos. Há coisas mais tristes e, por certo, mais graves no nosso país. Se a evoco, é apenas para reflectir um pouco sobre o que, televisivamente, se passou na sequência da derrota do Sporting (7-1) com o Bayern de Munique.
No espaço mediático, predomina uma visão contrária que considera o futebol português como um dos melhores do mundo. Não tenho problemas em aceitar essa diferença de percepção. O que me confunde é o tom dominante de um jornalismo que, literalmente, transforma uma desilusão desportiva numa tragédia colectiva. Palavras como “hecatombe”, “vergonha” e “pesadelo” serviram para noticiar (?) e comentar (???) aquilo que não passava de uma derrota amarga (a meu ver, tendo em conta o potencial de ambas as equipas, naturalíssima). Esperei até que a vitória por 4-0 do Liverpool sobre o Real Madrid (esse sim, um confronto de duas equipas com valores semelhantes) fosse descrita como uma guerra nuclear... Mas não.
Nos dias que antecederam o Bayern-Sporting já se tinha assistido ao primeiro acto desta agitação populista, com a promulgação da necessidade de o Sporting, depois da derrota da primeira mão (5-0), resgatar a sua “honra” e “dignidade”. Na prática, assistimos a isto: num país tão ferido por tantos problemas decorrentes da crise internacional, é o futebol que emerge como uma espécie de tragédia de recurso, transmitindo-se para o povo conceitos gratuitos do que seja um confronto desportivo ou do que possa ser a identidade nacional. Eu escrevi “povo”? É verdade. A palavra também se tornou minoritária, mas parece-me que não a devemos perder.