No ano em que celebram um quarto de século de vida, os Pet Shop Boys abrem a sua agenda não com uma evocação de feitos, mas antes com um disco que mostra, em pleno, como a sua linguagem pop de personlidade vincada se mantém viva, activa e consequente. Três anos depois de Fundamental, o regresso faz-se com um disco em tudo positivo, a começar pelo título: simplesmente Yes. Não se trata de uma manobra de escapismo evasivo milimetricamente talhada para um ano difícil no mundo das vidas reais, mas, na verdade, uma simples materialização da expressão mais clássica da canção pop, naturalmente pensada com a inteligência de quem assinou já uma das mais importantes obras do género. Contando com a colaboração da equipa de produção Xenomania e com parceiros como Johnny Marr (guitarra e harmónica) e Owen Pallett (nos arranjos de cordas de dois temas), Yes é um álbum luminoso, optimista, nem por isso euforicamente festivo. Com a conta, peso e medida de quem entende o apelo gourmet dos ingredientes que junta quando se faz um disco pop, Neil Tennant e Chris Lowe apresentam em Yes a sua melhor colecção de canções desta década e, pela atitude que as caracteriza, o sucessor que já tardava para o clássico Very, de 1993. Apesar dos elementos com que os produtores aqui marcam o presente, o disco respira livremente a alma pop característica dos Pet Shop Boys. Do apelo pop de Love Etc. à citação de Tchaikovsky em All Over The World, da elegância de King Of Rome à festa de Pandemonium, Yes é novo e seguro episódio numa história de referência que não precisa de inventar o futuro para afirmar o seu presente.
Pet Shop Boys
“Yes”
Parlophone / EMI Music Portugal
4/5
Para saber mais: Site oficial.
Eleito uma das figuras da geração 00 do rock britânico nos dias em que integrava os Libertines, Pete Doherty foi de facto presença assídua nos jornais ao longo dos últimos anos, acabou mais vezes citado nas colunas de mexericos que nas páginas dedicadas à música. 2009 assiste à sua estreia discográfica a solo, com um álbum em tudo surpreendente, distante dos modelos herdeiros de atitudes punk dos Libertines e da inconsequência sem aparente rumo dos Babyshambles... Em Grace/Wastelands vemo-lo na pele de um escritor de canções de filiação aberta a um rol de modelos, de heróis cantautores a terrenos mais próximos de herenças clássicas do rock britânico. Um disco onde a placidez das melodias e a procura das palavras roubam o protagonismo à exuberância de outros tempos. As canções são directas, mas reflectidas, revelando um olhar desencantado sobre o mundo ao seu redor. O disco conta com colaborações que vão de Graham Coxon (Blur) a Dot Allison. Procura horizontes, experimenta registos, embora sem sobressaltos. Não atinge o apelo mais cerebral do colectivo The Good The Bad and The Queen, mas mostra sinais de familiaridade com essa forma tranquila e crítica de viver e reflectir a referências várias da música britânica num contexto presente. Uma agradável surpresa, portanto.
Pete Doherty
“Grace / Wastelands”
EMI / EMI Music Portugal
3/5
Para ouvir: MySpace.
Editada em 2006, a estreia em álbum do projecto Whitest Boy Alive mostrava uma outra face de Erlend Oye: a do músico desinspirado. O norueguês, metade dos elegantes Kings Of Convenience, tivera uma primeira experiência paralela à dupla acústica que o revelara em actuações como DJ nas quais marcava presença não apenas pelas escolhas dos discos, mas pelo facto de cantar sobre eles (o que ficou entretanto registado no volume que editou na série DJ Kicks). O seu evidente interesse pelas electrónicas e pela música de dança foi vincado num interessante disco a solo de 2003, no qual colaborou com figuras como Morgan Geist ou Schneider TM. O problema maior de Dreams (2006), primeiro álbum desta sua nova banda (com sede em Berlim, onde hoje reside), era, além de uma evidente colecção menor de canções, a sua falta de foco. Em três anos arrumou a casa. E Rules mostra agora um caminho. Canções pop, subtilmente musculadas com ritmos dançaveis, partilhando uma instrumentação “convecional” com electrónicas. Canções que talha num jogo entre agitação e preguiça, a sua voz servindo de fiel da balança, impedindo surtos de energia maiores, a instrumentação fechando a porta ao apelo pastoral que a evocação dos Kings Of Convenience poderia levantar. Melancolia bem disposta, portanto...
Whitest Boy Alive
“Rules”
Modular/Symbiose
3 / 5
Para ouvir: MySpace.
Há quatro anos, quando se apresentaram com o seu muito elogiado álbum de estreia, os WhoMadeWho mostravam já sinais claros de personalidade. Alinhavam na grelha de partida em pleno campeonato de redescoberta do legado pós-punk. Mas revelavam, além de uma evidente veneração por David Bowie, um instinto pelo groove, procurando heranças junto de uns PigBag ou A Certain Ratio, evitando esgotar-se nas normas XTC/Gang Of Four ou Joy Division/New Order que se começavam a revelar com mais seguidores. Surprenderam, pouco depois, com um álbum de versões (“verdes”) dos temas do disco de estreia, todavia despidas da sua pulsão dançante... Agora, ao regressar, o trio dinamarquês retoma o caminho onde nos deixara em 2005. Porém, mostrando aos muitos com que então partilharam a grelha de partida, como se evita o despiste e se consegue manter viva uma mesma ideia fundamental. The Plot toma por matéria prima uma série de referências de finais de 70 e inícios de 80. Cruza viço disco com heranças da pop electrónica, reinventando-as em canções actuais, simples, directas, sem o polimento digital de uns Hot Chip, deixando de fora algumas arestas rugosas (próprias de uma genética punk aqui igualmente presente). Desafia à dança, mas nunca sai de pista, mantendo firme um rumo pop.
WhoMadeWho
“The Plot”
Gommma/Symbiose
3 / 5
Para ouvir: MySpace.
O álbum de estreia dos The Rakes, Capture/Release, de 2005, pode ser hoje entendido entre os que ajudaram a definir um caminho de reencontro do rock’n’roll britânico com um realismo “de rua” (um pouco como o fez Mike Skinner, com outras ferramentas e sons, via The Streets). Fruto de uma mesma fonte de acontecimentos que gerou os Libertines, a banda londrina revelava-se então capaz de conciliar o tom directo de uma música rápida e intensa com reflexões sobre o quotidiano, na melhor herança da escola The Clash. O segundo disco, dois anos depois, mostrava os mesmos sinais de desnorte que atingiram muitos dos seus parceiros, num inesperado jogo errado com mais forma que conteúdo. Klang, que agora é editado, tenta remediar esse passo em falso. Gravado em Berlim (possivelmente tendo em mente os efeitos terapêuticos da cidade sobre David Bowie, Iggy Pop ou os U2), Klang devolve a história ao caminho que o álbum de estreia indiciara. As canções voltam a ser mais directas, feitas de intensidade evocativa de uma simplicidade formal herdada do punk. As palavras procuram novamente figuras e histórias do quotidiano... Em 1989 (o single de avanço) apresentam um hino pop como os Franz Ferdinand não conseguiram fazer no mais recente álbum. Contudo, o alinhamento poucas vezes mais se aproxima destes feitos...
The Rakes
“Klang”
V2 / Popstock
2 / 5
Para ouvir: MySpace.
Também esta semana:
Royksopp, Pearl Jam (reedição), Indigo Girls, Dan Deacon
Brevemente:
30 de Março: PJ Harvey + John Parish, Gomez, Whitest Boy Alive, Peter Bjorn & John, DAF (best of) , The Decemberists, Ultravox (best of), Hold Steady, Graham Parsons (reedição), Micachu
6 de Abril: Yeah Yeah Yeahs, Xutos & Pontapés, Neil Young, Bat For Lashes, Bill Callahan, Siouxsie & The Banshees (reedições), Nick Cave & The Bad Seeds (reedições), Carole King (reedição), Cliff Richard (B Sides), Ani Rossi, Elvis Perkins, Baskery
13 de Abril: Madeleine Peyroux, Super Furry Animals, Eddi Reader
Abril: Metric, Bob Dylan, Papercuts, Depeche Mode, Annie, Tortoise, Vitalic, Bell Orchestre, Camera Obscura, Morrissey (reedição), Thomas Dolby (best of), Dukes Of Stratosphere (reedições), Big Pink, Richard Swift, Maximilian Hecker
Maio: Conor Oberst, Grizzly Bear, VV Brown, Art Brut, Tori Amos, Iggy Pop, Phoenix, St Vincent