Aleluia!
Afinal, ao contrário do que alguns cineastas portugueses ciclicamente proclamam, não é fácil explicar as tragédias da produção cinematográfica portuguesa demonizando a "crítica" ou praticando esse desporto pueril que é escolher um crítico como alvo e cobri-lo de insultos. É isso, pelo menos, que podemos deduzir de um texto hoje difundido pela comunicação social, proveniente da direcção da Associação Portuguesa de Realizadores, presidida por Margarida Gil.
Inventariando as razões do mal estar que se vive na profissão cinematográfica, a APR aponta alguns problemas de raiz, incluindo os critérios de gestão do Fundo de Investimento para o Cinema e Audiovisual (FICA), as decisões políticas tomadas sem o envolvimento dos realizadores e o progressivo esvaziamento do Instituto de Cinema e Audiovisual (ICA). Mais especificamente, o texto denuncia a oposição redutora entre "arte e comércio" — por feliz coincidência, há décadas um tema recorrente da crítica mais responsável, isto é, aquela que não confunde os confrontos (inevitáveis e salutares) das subjectividades estéticas com a importância de criar condições de produção tão alargadas quanto possível para todos os realizadores de cinema.
Independentemente da imensa complexidade do que está em jogo (incluindo a indiferença militante da maior parte da classe política), e mesmo se é verdade que os problemas do cinema português não se resolvem com comunicados, este tem o mérito de reagir contra a simplificação abusiva desses mesmos problemas e pode ser (em especial para os políticos) um útil instrumento de trabalho — vale a pena ler.