Algumas notícias sobre a pós-produção de O Leitor garantem que Stephen Daldry queria prolongar a montagem do seu filme, enquanto o distribuidor (a companhia dos irmãos Weinstein) insistia em tê-lo pronto a tempo de estrear antes do final de 2008, nos EUA, desse modo inscrevendo-o na lista de candidatos aos Oscars. O filme está mesmo nos Oscars e, aliás, com um lote excelente de cinco nomeações; provavelmente, nunca saberemos se Daldry poderia ter evitado uma certa retórica "informativa" que, por vezes, parece limitar a coerência dos resultados. O certo é que O Leitor existe e nos remete, de forma perturbante, para a Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial — este texto foi publicado no Diário de Notícias (12 de Fevereiro), com o título '"O Leitor" revisita as memórias do Holocausto'.
Esta é uma história que abalou o mundo. Publicado em 1995, o romance O Leitor, de Bernhard Schlink, veio relançar algumas perturbantes questões sobre a Segunda Guerra Mundial, o extermínio dos judeus pelos nazis e a memória colectiva da Alemanha. Ao abordar a paixão de Hanna Schmitz, que foi guarda do campo de concentração de Auschwitz, e Michael Berg, um jovem estudante de Direito, Schlink propõe um dramático ziguezague temporal: entre a década de 50 e os últimos anos do século XX, são os traumas da história da Alemanha (e de toda a Europa) que regressam através de uma intriga que tem também a dimensão de uma tragédia amorosa.
A adaptação cinematográfica, dirigida por Stephen Daldry (realizador de Billy Elliot e As Horas) surge como um objecto capaz de prolongar o efeito do livro (que, aliás, se tornou referência obrigatória dos estudos universitários sobre o Holocausto). A presença do filme na actual temporada de prémios tem também contribuído para o seu impacto: Kate Winslet (intérprete de Hanna) já arrecadou várias distinções, incluindo um Globo de Ouro para melhor actriz secundária e os prémios de interpretação feminina da Screen Actors Guild (organização americana dos actores) e dos BAFTA (os “oscars” britânicos). Para os Oscars de Hollywood, o filme está muito bem colocado, com cinco nomeações, incluindo melhor filme; as outras são para Daldry (realização), Winslet (actriz) David Hare (argumento adaptado) e Roger Deakins/Chris Menges (fotografia).
O aparecimento de O Leitor é indissociável de uma nova vaga de títulos sobre a Segunda Guerra Mundial. Recordemos Resistentes, de Edward Zwick, sobre a resistência dos judeus da Polónia à invasão do exército nazi, e Valquíria, de Bryan Singer, centrado numa conspiração para matar Adolf Hitler, em 1944. Desta vez, estamos face a um drama intimista que remete para a herança de culpas que vem da Segunda Guerra Mundial e, mais especificamente, o modo como essa herança é vivida pelas diferentes gerações.
Na actual produção americana, O Leitor ocupa também um importante lugar simbólico. Desde logo porque foi um dos derradeiros títulos a que ficaram ligados (enquanto produtores) dois cineastas falecidos em 2008: o americano Sydney Pollack e o inglês Anthony Minghella. Depois porque o seu impacto, em especial nos Oscars, poderá ser fundamental para a consolidação da Weinstein Company, através da qual os irmãos Weinstein (Harvey e Bob) têm tentado recuperar o papel que assumiram enquanto directores da Miramax (que abandonaram em 2005). Recorde-se que eles foram decisivos na afirmação de um novo conceito de “produção independente”, em particular através de títulos como O Carteiro de Pablo Neruda (1995) ou O Paciente Inglês (1996). Agora, enquanto distribuidores de O Leitor, os Weinstein apostam no relançamento de um modelo que os distinguiu: o filme que reflecte sobre os labirintos da história colectiva, ao mesmo tempo que preserva uma dimensão melodramática enraizada em modelos do mais tradicional cinema popular.
Esta é uma história que abalou o mundo. Publicado em 1995, o romance O Leitor, de Bernhard Schlink, veio relançar algumas perturbantes questões sobre a Segunda Guerra Mundial, o extermínio dos judeus pelos nazis e a memória colectiva da Alemanha. Ao abordar a paixão de Hanna Schmitz, que foi guarda do campo de concentração de Auschwitz, e Michael Berg, um jovem estudante de Direito, Schlink propõe um dramático ziguezague temporal: entre a década de 50 e os últimos anos do século XX, são os traumas da história da Alemanha (e de toda a Europa) que regressam através de uma intriga que tem também a dimensão de uma tragédia amorosa.
A adaptação cinematográfica, dirigida por Stephen Daldry (realizador de Billy Elliot e As Horas) surge como um objecto capaz de prolongar o efeito do livro (que, aliás, se tornou referência obrigatória dos estudos universitários sobre o Holocausto). A presença do filme na actual temporada de prémios tem também contribuído para o seu impacto: Kate Winslet (intérprete de Hanna) já arrecadou várias distinções, incluindo um Globo de Ouro para melhor actriz secundária e os prémios de interpretação feminina da Screen Actors Guild (organização americana dos actores) e dos BAFTA (os “oscars” britânicos). Para os Oscars de Hollywood, o filme está muito bem colocado, com cinco nomeações, incluindo melhor filme; as outras são para Daldry (realização), Winslet (actriz) David Hare (argumento adaptado) e Roger Deakins/Chris Menges (fotografia).
O aparecimento de O Leitor é indissociável de uma nova vaga de títulos sobre a Segunda Guerra Mundial. Recordemos Resistentes, de Edward Zwick, sobre a resistência dos judeus da Polónia à invasão do exército nazi, e Valquíria, de Bryan Singer, centrado numa conspiração para matar Adolf Hitler, em 1944. Desta vez, estamos face a um drama intimista que remete para a herança de culpas que vem da Segunda Guerra Mundial e, mais especificamente, o modo como essa herança é vivida pelas diferentes gerações.
Na actual produção americana, O Leitor ocupa também um importante lugar simbólico. Desde logo porque foi um dos derradeiros títulos a que ficaram ligados (enquanto produtores) dois cineastas falecidos em 2008: o americano Sydney Pollack e o inglês Anthony Minghella. Depois porque o seu impacto, em especial nos Oscars, poderá ser fundamental para a consolidação da Weinstein Company, através da qual os irmãos Weinstein (Harvey e Bob) têm tentado recuperar o papel que assumiram enquanto directores da Miramax (que abandonaram em 2005). Recorde-se que eles foram decisivos na afirmação de um novo conceito de “produção independente”, em particular através de títulos como O Carteiro de Pablo Neruda (1995) ou O Paciente Inglês (1996). Agora, enquanto distribuidores de O Leitor, os Weinstein apostam no relançamento de um modelo que os distinguiu: o filme que reflecte sobre os labirintos da história colectiva, ao mesmo tempo que preserva uma dimensão melodramática enraizada em modelos do mais tradicional cinema popular.