Woody Allen continua a filmar na Europa. E nós continuamos a perguntar: para quando o regresso à América? — este texto foi publicado no Diário de Notícias (22 de Janeiro), com o título 'Dramas de um americano longe de Nova Iorque'.
É bem certo que, em 2005, em Londres, Woody Alllen realizou aquele que era o seu melhor filme em muitos anos: Match Point, um melodrama que recuperava a subtileza e crueldade de Crimes e Escapadelas (1989) ou Maridos e Mulheres (1992). Depois disso, quase só o vimos fazer variações, simpáticas mas menores, sobre as grandes componentes temáticas do seu universo, a começar pela eterna incompreensão entre homens e mulheres. Vicky Cristina Barcelona é apenas mais do mesmo, apostando ainda na suposta imagem de Scarlett Johansson como “musa” tardia do seu cinema — mesmo se Rebecca Hall [foto], que esta semana podemos descobrir também em Frost/Nixon, a bate aos pontos, dominando todas as cenas em que aparece.
Acontece que, por mais desvios e reconversões que Woody Allen possa ensaiar, não parece possível desligar o seu mundo criativo das paisagens americanas e, em particular, das ruas de Nova Iorque. De facto, a grande metrópole que conhecemos de clássicos como Manhattan (1979) ou Broadway Danny Rose (1984) não é um mero pano de fundo, mas sim uma cidade viva e contagiante, por assim dizer a primeira personagem de cada filme. E mesmo quando Woody Allen filmava um mero recanto, uma esquina ou uma porta, havia uma paixão pelo detalhe que funcionava, desde logo, como elemento afectivo da própria ficção.
Mesmo quando emerge a subtileza emocional da escrita do autor, Vicky Cristina Barcelona é um filme que parece não fazer corpo com os seus próprios ambientes, transmitindo a sensação incómoda de resultar de um olhar alheado ou banalmente “turístico”. Provavelmente Woody Allen não gostará da ironia, mas apetece dizer que, no estado actual do seu cinema, o melhor que lhe pode acontecer é... regressar a Nova Iorque.
É bem certo que, em 2005, em Londres, Woody Alllen realizou aquele que era o seu melhor filme em muitos anos: Match Point, um melodrama que recuperava a subtileza e crueldade de Crimes e Escapadelas (1989) ou Maridos e Mulheres (1992). Depois disso, quase só o vimos fazer variações, simpáticas mas menores, sobre as grandes componentes temáticas do seu universo, a começar pela eterna incompreensão entre homens e mulheres. Vicky Cristina Barcelona é apenas mais do mesmo, apostando ainda na suposta imagem de Scarlett Johansson como “musa” tardia do seu cinema — mesmo se Rebecca Hall [foto], que esta semana podemos descobrir também em Frost/Nixon, a bate aos pontos, dominando todas as cenas em que aparece.
Acontece que, por mais desvios e reconversões que Woody Allen possa ensaiar, não parece possível desligar o seu mundo criativo das paisagens americanas e, em particular, das ruas de Nova Iorque. De facto, a grande metrópole que conhecemos de clássicos como Manhattan (1979) ou Broadway Danny Rose (1984) não é um mero pano de fundo, mas sim uma cidade viva e contagiante, por assim dizer a primeira personagem de cada filme. E mesmo quando Woody Allen filmava um mero recanto, uma esquina ou uma porta, havia uma paixão pelo detalhe que funcionava, desde logo, como elemento afectivo da própria ficção.
Mesmo quando emerge a subtileza emocional da escrita do autor, Vicky Cristina Barcelona é um filme que parece não fazer corpo com os seus próprios ambientes, transmitindo a sensação incómoda de resultar de um olhar alheado ou banalmente “turístico”. Provavelmente Woody Allen não gostará da ironia, mas apetece dizer que, no estado actual do seu cinema, o melhor que lhe pode acontecer é... regressar a Nova Iorque.